
Mestra Lurdes Juremeira – Foto: Walace Yure
Aqui está o livro que faltava na historiografia potiguar. Uma antiga lacuna na temática em questão. Pioneiramente, em 2000, foi publicado o nosso ‘ensaio’ Rezadeiras do RN, para o Encarte ilustrativo da Fundação Hélio Galvão, com fotos de Candinha Bezerra e grande repercussão além de nossas fronteiras.
Esta pesquisa nasceu das minhas viagens pelas cidades do meu Rio Grande do Norte. Tudo começou em meados de 1993. Um sonho, na verdade, originado da minha amizade com Gumercindo Saraiva, Veríssimo de Melo, Celso da Silveira, Raimundo Soares de Brito e Deífilo Gurgel. Primeiros incentivadores com sugestões e livros emprestados, para esta empreitada. Foram os chamados ‘culpados diretos’. E do saudoso mestre Deífilo, ainda guardo comigo o seu preciso conselho: Corra atrás de suas rezadeiras, que eu vou ver minhas romanceiras e grupos folclóricos!
Seguindo a ideia fui empreendendo este meu sonho, contando apenas com uma pequena bolsa, uma velha máquina fotográfica e um pequeno gravador, além de um caderno para minhas anotações. Sempre com hospedagens nas casas das boas amizades, um pé lá, outro cá. Livros emprestados e indicações bibliográficas ao longo da maratona, peregrinações, quase sempre à custa de meus parcos recursos financeiros, aproveitando os períodos de feriados e férias do trabalho.
Padres católicos e Pastores evangélicos fugindo às minhas visitas nas suas cidades. Do meio católico, tenho que destacar e agradecer o apoio indispensável dos monsenhores Expedito Medeiros, de São Paulo do Potengi/RN (este me acompanhando nos lares das suas amigas rezadeiras) e Américo Simoneth, de Mossoró/RN, que me recebeu com palestra e exposição de meu acervo de objetos místicos, durante a programação dos festejos de Santa Luzia. Nem vou me alongar, mas a empreitada não foi fácil.
Muito mais difícil foi a peleja em busca da publicação desta obra através de editais públicos. Pasmem: este projeto foi rejeitado três vezes nesses processos ditos democráticos. Até parece que os ilustres ‘avaliadores’ não sabiam que as rezadeiras pesquisadas, quanto o autor, são oriundos da terra do mestre Câmara Cascudo, ícone maior do nosso folclore e etnografia do Brasil. E quem sabe, nunca leram sobre nossos folcloristas que trataram da nossa religiosidade popular potiguar… cala-te boca!
Mas como não nasci para desistir, sigo lutando. Convém resistir. E aqui deixo a minha eterna gratidão ao amigo médico e folclorista Iaperi Araújo, um dos mais respeitados pesquisadores da medicina popular, parteiras e religiosidade popular do Brasil. Aos que me ajudaram ao longo dessa jornada já tão longa. Aos leitores que a esperavam e os pesquisadores/defensores das raízes populares de nossa religiosidade nordestina. E que viva a boa fé do povo, sintonizada nas rezas e crendices do mundo místico de nossas santas rezadeiras – ‘Patrimônio Cultural Religioso’ do nosso RN. Agora, estarão vivíssimas as rezadeiras e vivíssimos os rezadores, em um livro, comportando o seu justo e devido respeito e resgate!
Perdoadas, as barreiras no meu caminho e os entraves dos editais culturais. Eu só digo que valeu tudo que foi por mim vivido e aprendido com as sábias rezadeiras do nosso RN. E acho que tentei recuperar as memórias esquecidas, os antigos ensinamentos e as nossas ‘perdidas’ rezas tradicionais. Talvez esta obra ajude as netas e netos das rezadeiras que ainda não tenham nada registrado. Os leitores aqui sabem de que pouquíssimas rezadeiras eram letradas e, portanto, não deixaram escritos de suas vivências em velhos cadernos escolares. E assim, deste modo, acho que com esta obra agora publicada, vamos recuperar os esquecimentos e as rejeições dirigidas a estas guerreiras do bem e das curas, em suas sofridas vidas!
O livro tão esperado, inédito na temática em questão com publicação no nosso RN, vai chegar impresso aos leitores e leitoras, em uma edição especial de 300 exemplares, numerados e com apresentação do renomado estudioso da medicina popular/religiosidade e folclorista Iaperi Araújo. Arte gráfica do designer José Aglio, com mais de 300 páginas ilustrativas com antigas fotos das rezadeiras pesquisadas.
Devido a obra não contar com nenhum apoio de incentivo público, toda a edição impressa do livro será vendida para custear as despesas com a edição. A proposta inicial seria a doação de livros para as bibliotecas públicas municipais e estaduais, porém, como já foi mencionado anteriormente, o projeto não foi selecionado em nenhum edital. Por conta disso, o livro será vendido via pix, antecipado, já autografado e entregue aos leitores. Aguardemos a preciosidade.
Morada São Saruê, Nísia Floresta/RN, 2025.