Elvis, nosso rei.

Lp Elvis – 10 Anos De Saudade

 

por NILO EMERENCIANO // arquiteto e escritor
 
Na minha adolescência levei horas frente ao espelho tentando copiar o topete de Elvis Presley. Usei Gumex (dura lex, sed lex, no cabelo só Gumex), Brylcreem e até o laquê de minha mãe para fixar aquela mecha solta na testa. Como não o fazer? O cara era bonito, tinha uma potente e belíssima voz, posava de bom moço, nos filmes ganhava sempre dos vilões e além disso estava cercado de belas garotas (Ann – Margret era fenomenal). Frente às dificuldades mais sérias ele só tinha que empunhar o violão e cantar “Love me tender” ou “Suspicious minds” e tudo acabava muito bem.
Quando os cabeludos engomadinhos de Liverpool apareceram ameaçando o nosso Rei, torci contra. Afinal eram quatro contra um! Além disso, Ringo era feio de doer, Lennon tinha cara daqueles alunos míopes e chatos da escola e Harrison só figurava. Sobrava, na minha opinião, Paul, sua bela voz e lindas canções. Que entendia eu de música? Um pouco mais que nada, mas o balanço do Rock’n‘Roll ou do Iê-iê-iê, vamos combinar, batia fundo na nossa alma de garotos.
 A morte de Elvis foi uma triste notícia para todos nós. Esse cara vestido de super-herói podia morrer? Não é à toa que muitos fãs acham que ele continua vivo em algum lugar longe do frenesi do show business.
Anos mais tarde li um livro sobre sua última semana de vida. Tanto sucesso e grana não conseguiram dar aquele rapaz uma noite de sono em paz. Acho que conhecer um pouco da triste rotina em que vivia me fez ver um pouco da sua humanidade frágil.
Uma triste sina persegue os grandes do rock. Geralmente morrem jovens e tragicamente. Janis Joplin, Jimmy Hendrix, Jim Morrison, Amy Winehouse, Brian Jones, Kurt Cobain, todos viveram apenas até os 27 anos de idade. Vidas intensas, agitadas e produtivas.
 Mas o cinema é uma magia capaz de proezas maravilhosas. E agora, enfim, uma produção nos traz, quase miraculosamente, Elvis de volta e em plena forma.
Fui ver o filme, confesso, com uma boa dose de desconfiança. Achei que ia ser uma dessas produções açucaradas, destinadas à sessão da tarde. Afinal, como iam ser capazes de levar às telas a vida rica e controversa do Rei do Rock?
Bela surpresa.
Primeiro, o ator, Austin Butler. Perfeito na postura, no jeito de olhar, no sorriso enviesado, nas performances. Encarna de forma verossímil o caipira deslumbrado que no fundo Elvis sempre foi. Tom Hanks é um caso à parte. Faz de forma caricata (lembra o Pinguim inimigo de Batman) o empresário-vilão Tom Parker. Aliás, foi uma escolha acertada usar como fio do roteiro as suas memórias sobre Elvis. E, convenhamos, impossível contar, em 2 horas e meia de filme, as nuances, os dramas, as complexidades da vida e carreira do Rei do Rock, ainda mais deixando espaço para o ponto mais alto do filme, sem dúvida: as apresentações mágicas, em vários momentos, do artista, que, no palco, como que “incorporava” o espírito da música.
Há algum exagero nos figurinos, no visual e na montagem? Há, claro. Mas Elvis era assim, desde a dança, sensual e atrevida, até os carros, casa, roupas. Eu diria cafona, ou não eram cafonas aquelas toalhinhas que ele distribuía com as pessoas da plateia e aquele cinto de enorme fivela na cintura junto com o macacão repleto de brilhos e gola enorme? Sem falar nas costeletas extremamente bregas. O diretor Baz Luhrmann transforma tudo isso em um belo espetáculo visual e sonoro. Méritos para ele.
Acho que acertou ao deixar fatos que fazem parte da biografia, mas que no filme seriam obstáculos ao desenvolvimento do roteiro. Acertou também ao apenas aludir à morte triste, dizem que sufocado pelo próprio vômito, do cantor.
Ao passar por tantas coisas de forma ligeira, o diretor nos manda um recado: o importante é a obra, as canções, os shows, a voz, o carisma e o fascínio do personagem tão rico.
Bom pra nós, que deixamos nos envolver e desfrutar de ótimos momentos, algo tão necessário em tempos extremamente bicudos, tão sem humor e fantasia.
Acredito que o filme vá concorrer ao Oscar de algumas categorias. De cara, tem o meu voto e torcida. Elvis merece mais esse prêmio, porque nós, com certeza, já fomos premiados ao vê-lo ressuscitado nas telas, cantando suas belíssimas e imortais canções.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais acessadas