1º de maio: “Nossas armas estão na rua”

Um dia essencial para desenrolar a bandeira e usar como porta-estandarte na rua em memória dos operários de Chicago mortos em 1886 por reivindicarem melhores condições de trabalho.

Fotografias: Rogério Marques/Coletivo Foque

Este foi o tom de mais um 1º de maio que fez das bandeiras, faixas e cartazes armas de luta que há mais de um século estão sempre de volta às ruas para reafirmar o grito contra toda forma de exploração e por direitos. Conquistas que estão sendo duramente atacadas pela ultradireita, mas também por governos eleitos sob euforia popular e que ignoram o grito da classe trabalhadora e da juventude contra as reformas da previdência, trabalhista e do ensino médio. Patrões e governos insistem em manter a política de reajuste zero e suas crueldades em reduzir direitos.

No ato da Praça Cívica o coordenador geral do Sinasefe Natal, Fernando Varela, falou sobre o 1º de maio como um momento de luta. Estamos aqui unidos num propósito de luta pelos trabalhadores da educação, tanto do IFRN como das universidades federais, mas também a luta pelos trabalhadores do Brasil.

A professora Aparecida Fernandes, do Instituto Federal de Educação do Rio Grande do Norte (IFRN), aproveitou para reafirmar a luta para que haja recomposição do orçamento dos institutos federais e das universidades, pela reestruturação das carreiras, pela recomposição salarial que já são sete anos de desinvestimento e de perdas salariais, então não poderíamos deixar de vir reforçar o ato do 1º de maio.

Para Gerlane Silva, coordenadora do Sindesind/RN que representa trabalhadoras e trabalhadores de sindicatos, ser sindicatária não é fácil. Estamos reconhecendo neste 1º de maio a importância de estar na rua defendendo nosso direitos e dizer basta à invisibilidade nas organizações sindicais. Várias trabalhadoras presentes ao ato também se manifestaram em apoio à luta da categoria por respeito e contra a opressão por parte de entidades sindicais.

Durante a manifestação ocorrida na Praça dos Pescadores (Praia do Meio), Letícia que é a vice-presidente da União Estadual dos Estudantes, afirmou: os estudantes mostram que não está tudo bem, os técnicos administrativos, os professores e a saúde em greve mostram que não está tudo bem. O ato também teve o grito por moradia que deu o seu recado – com luta, com garra, a casa sai na marra.

O representante do Sindicato do Bancários, Eduardo Xavier, afirmou que esse ato traz a pauta dos trabalhadores. Na ocasião, ele expôs que o arcabouço fiscal do governo federal é zero de reajuste para as categorias. Está aí a luta dos professores, dos técnicos. O governo Fátima reproduz a mesma política do arcabouço fiscal do governo federal quando senta na mesa de negociação e oferece zero de reajuste para os trabalhadores. Arrocho salarial, falta de verbas para a educação, saúde, e bilhões para o latifúndio, bilhões para os banqueiros e empresários através de isenções fiscais.

Entre protestos e palavras de ordem, a solidariedade internacional esteve presente neste 1º de maio, especialmente aos estudantes universitários dos Estados Unidos, que estão apanhando da política e sendo presos em decorrência das manifestações em defesa do povo palestino, que está sofrendo um grande massacre que já passa dos 35 mil mortos, um genocídio que tem sido denunciado em todo canto do mundo, alto e bom som – Estado de Israel, Estado assassino, e viva a luta do povo palestino.

Em nome da CSP-Conlutas, Aparecida Dantas falou que esse é um ato de resistência, independente e de luta. Logo em seguida, denunciou as reformas da previdência e trabalhista que ataca os trabalhadores. ao citar a greve dos servidores federais em defesa do serviço público e da qualidade da educação, lembrou que desde 2013 não temos recomposição salarial, os orçamentos das universidades estão cortados e o governo está dando as costas para o serviço público.

Um 1º de maio de luta, memória e muita música com o grupo Arquivo Vivo.

A jornada de trabalho de 44 horas semanais e 220 horas mensais com descanso semanal, um dos principais direitos garantidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), é fruto de uma luta que vem de longe.

A jornalista Cláudia Santiago, que é fundadora do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC), conta que a história do 1° de maio tem tudo a ver com o surgimento das fábricas há uns 200 anos. Naquele tempo, os operários viviam numa grande miséria. Trabalhavam 12, 15 e até mesmo 18 horas por dia. Não havia descanso semanal, muito menos férias. Para o mundo do trabalho, não havia leis.

Apesar das conquistas, há décadas os direitos trabalhistas são ‘flexibilizados’ e desregulamentados. Hoje, mais de 40% dos trabalhadores não têm direito algum e são incentivados a empreender. O empreendedorismo é uma mentira, um embuste. É fruto de uma política ultraliberal de retirada de direitos. É o cada um por si… Empreenda e se vire!, alerta a historiadora.

Por que celebramos o 1° de Maio?

Em 1866, a Internacional (AIT – Associação Internacional doa trabalhadores, também conhecida como 1ª Internacional) declarou a jornada de trabalho de 8 horas como luta central dos operários. Anos depois, em 1884, a Federação Americana do Trabalho (AFL – American Federation of Labor) realizou um congresso no qual ficou decidida a realização de uma greve geral pelas 8 horas, em todo o país (EUA), em 1886.

Em abril de 1886, em várias cidades americanas explodem greves isoladas muito reprimidas pela polícia.

Na madrugada do dia 30, véspera do dia 1° de maio, debaixo das portas das casas dos operários de Chicago, apareceu um panfleto que dizia: “A partir de hoje, nenhum operário deve trabalhar mais de 8 horas por dia. 8 horas de trabalho, 8 de repouso e 8 de educação”. Numa dessas greves, a polícia ataca e mata nove grevistas.

No dia 4 de maio, os trabalhadores fazem um comício para protestar e chorar seus mortos. De repente, misteriosamente, uma bomba explode no pelotão dos policiais. É a senha para eles começarem a atirar sobre os manifestantes.

Enquanto isso, a polícia cerca o palanque e prende todos os oradores. Sete líderes sindicais são presos: August Spies, Sam Fielden, Oscar Neeb, Adolph Fischer, Michel Schwab, Louis Lingg e Georg Engel.

Todos foram julgados culpados em 9 de outubro de 1886: Parsons, Engel, Fischer, Lingg e Spies são condenados à forca; Fielden e Schwab, à prisão perpétua; Neeb, a 15 anos de prisão.

As últimas palavras de Spies, antes do enforcamento, são: “Adeus, o nosso silêncio será muito mais potente do que as vozes que vocês estrangulam”. E assim foi.

Em 1891, a Internacional Socialista, no seu 2° Congresso, decreta que o 1° de Maio seja comemorado todo ano como Dia Internacional dos Trabalhadores.

E assim… praças e ruas continuam sendo ocupadas pra fazer valer o histórico de lutas da classe trabalhadora, em todas as partes do mundo.

Confira a cartilha sobre a história do 1° de Maio disponibilizada pelo Núcleo Piratininga de Comunicação.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *