
por GUTENBERG COSTA // Contador e ouvidor de histórias do povo
Confesso que estava aguardando outros se pronunciarem sobre o citado centenário de um homem que aqui veio para plantar as sementes do bem e da poesia entre nós.
O poeta, cordelista e amigo de Pedro, Jailson Nascimento, até preparou o seu folheto-homenagem, ainda inédito, acerca do velho amigo que com certeza o inspirou e marcou a sua trilha cordelística. Sua trajetória cultural e poética foi lembrada recentemente pelo sério pesquisador e também poeta cordelista, o amigo Fernando. O conhecido e respeitado Nando, da Estação do Cordel. Nesta vida de intrigas e ingratidões, têm aqueles que chegam e vão, sem deixar boas lembranças e outros que sempre estamos recordando, devido às boas qualidades deixadas como heranças – alegrias, gentilezas e amizades.
Conheci o velho Pedro em 1984, durante as minhas andanças nas feiras de minha Natal.
Era um domingo de muito sol e o encontrei em sua humilde banquinha, prosando, contando histórias e vendendo seus folhetos na pequena feira do bairro de Cidade Nova. Amizade feita na hora para durar o resto da vida. Fui à sua casa inúmeras vezes e ele ao meu trabalho. Chegava de supetão, sempre com sorrisos e novos folhetos. Quando lhe comuniquei que estava preparando uma pesquisa sobre o nosso santo já canonizado na boca do povo, o Padre João Maria, em poucos dias ele entregou-me um folheto sobre o referido santo. Quando o saudoso editor Vingt-un Rosado soube que eu não havia conseguido apoio para publicar a pesquisa, tomou a frente e a publicou na sua generosa Coleção Mossoroense. Uma editora espécie de mãe literária para os deserdados no RN.
Do mesmo modo, o irrequieto Pedro Jacob fez com o mestre Câmara Cascudo na Literatura de Cordel, prêmio da Prefeitura Municipal de Natal, em 1998. Apareceu com sua contribuição. Anos depois, já reclamando do cansaço da idade, entregou-me originais e estudos que fazia para as suas xilogravuras. Era aposentado da UFRN, e no Projeto Memória, da Faculdade em questão, no tempo de Diógenes da Cunha Lima como reitor, o humilde funcionário participou com vários folhetos e xilogravuras, nos anos 80.
Nas diversas conversas que tivemos, contava que vendera muito os seus folhetos sobre as tragédias – abalos de João Câmara; O Crime do Bom Pastor; A Vida de Brinquedo do Cão; O Monstruoso Crime de Capim Macio, entre outros títulos, já que havia publicado mais de uma centena de cordéis com fatos acontecidos, os quais chamavam a atenção e a curiosidade do povo de suas feiras. Era um repórter da rima do seu tempo e de seu povo.
Residiu, décadas, numa casinha simples, mas com o orgulho de ser própria, na Rua Ivo Furtado, 414, Cidade Nova, região Oeste de Natal. Era casado, com filhos e netos. Nascido em Natal a 25 de setembro 1922, encantou-se em 16 de agosto de 1999. Coincidentemente, o mês dedicado ao folclore mundial. Foi sepultado no cemitério do Bom Pastor com a presença chorosa de familiares e amizades da sua região de morada. Na ocasião, não tive como recusar ao pedido da família para tecer algumas palavras de amizade e admiração ao velho poeta. Depois de mim, veio o amigo Mery Medeiros, que também emocionado relembrou o esforço quixotesco daquele poeta que vendia sua produção nas feiras e escolas. Um andarilho sem apoio cultural, mas destemido, que veio para marcar a sua luta na história da Literatura de Cordel da Cidade do Natal.
Seu nome ainda integrou o nosso Dicionário de Cordelistas do RN, em 2004; A Presença de Frei Damião na Literatura de Cordel, em 1998; A Presença de Lampião na Literatura de Cordel, em 1997. É nome verbetado no Dicionário de Repentistas e Poetas de Bancada, dos dicionaristas Átila Almeida e José Alves Sobrinho (1978).
O grandioso Pedro Jacob marcou definitivamente a Literatura de Cordel do RN, dos anos 70 a 90. É ainda patrono de uma das 40 cadeiras da nossa Academia Norte-rio-grandense de Literatura de Cordel – Anlic.
Que os futuros pesquisadores e Universidades não o releguem ao ostracismo cultural, como de costume neste país e, principalmente, neste estado. Depois de sua partida, sem combinar, apressado, tentei com um vereador de Natal daquela época, que o poeta fosse homenageado na toponímia de uma rua ou travessa do bairro em que viveu, tanto amou e defendeu, fazendo gratuitamente palestras nas suas escolas. E nada feito até hoje.
Agora, o grande Pedro Jacob de Medeiros foi quase esquecido em seu centenário. O poder público cultural não organizou sequer uma antologia ou amostra de suas xilogravuras, que retratam o povo e suas histórias. Parece que o esquecimento do poder é rápido diante dos mais simples… Um poeta dos bons e um xilógrafo de traço simples e marcante.
Mas, dizem, quem aqui deixa amizades boas jamais será esquecido. Viva o aguerrido Cordelista Pedro Jacob de Medeiros!
Dezembro de 2022, Morada São Saruê, Nísia Floresta - RN