As feiras em tempo de eleições

 

por GUTENBERG COSTA // Escritor e folclorista

 

A feira é o espaço mais popular e democrático que conheço. Digo e juro de pés juntos, isso em qualquer banca de doutorado.

Hoje, pela manhã, vendo de pertinho a zoadeira que meu pai Geraldo Costa, sem minha santa paciência, a chamaria de cachorrada. Pobres dos cachorros. O rebuliço entre os feirantes. Eram os bandeiraços políticos na feira de São José de Mipibu/RN. Rapazes e moças alegres. Riam, feitos o velho Sílvio Santos nos programas televisivos.

Certos candidatos fogem das feiras feito o diabo da cruz. Enfrentar a ironia e a sinceridade do povo não é coisa pra quem é da geração de shopping. O feirante diz na cara suas alegrias e agruras. Que seja o Papa ou o novo Rei Charles III. Que seja na feira do meu Alecrim ou em Nísia Floresta.

Nas feiras não se perdem as amizades e o bom humor que tanto falta hoje. Observei dois feirantes adversários numa briga, feito aquela da cobra com o tijuaçu em duas maletas da feira de Pendências/RN.

– Você vota nesse condenado fela da puta?

E o outro respondeu na bucha – Não sou é corno de biqueira pra votar é no seu candidato, viu!

Os dois vendendo carne verde e armados de facas 12 polegadas afiadas. De supetão, o mais velho vai ao encontro do outro, mais jovem. Fico com bastante medo da desgraceira e testemunhar um crime. Aí vejo um abraçando o outro. Os dois sorrindo e se dirigindo para tomarem um café fraternal na tradicional Padaria Santana.

Então, percebi que a amizade em feira é mais forte do que o fumo de Abdias, daquele reclame antigo. E os candidatos brigando entre si na televisão com as baixarias inimagináveis. Nem imaginam que esse povo da feira é amigo, antes de tudo e de todos.

Todo sábado vou a uma feira. Chamo essas minhas andanças de Feiraterapia. Volto carregado de humor popular e, principalmente, de belas e pitorescas histórias para encher muitos livros pela frente.

Morada São Saruê – Nísia Floresta (RN)