A Comissão Norte-Rio-Grandense de Folclore, criada por Câmara Cascudo há 76 anos, é um marco da luta em defesa da nossa identidade cultural. Guardiã das tradições e manifestações populares que dão alma ao povo potiguar, a Comissão vive hoje um drama que é também o retrato do descaso com o patrimônio cultural do Rio Grande do Norte.
Após conquistar o direito ao uso de espaço público para desempenhar suas atividades, a Comissão enfrentou, nos últimos tempos, o desprezo sistemático do Governo do Estado. Durante anos, funcionou em uma sala cedida pela Fundação José Augusto, por iniciativa de um de seus ex-presidentes, François Silvestre. Mais recentemente, foi transferida para o Memorial Câmara Cascudo, um equipamento cultural que, ironicamente, encontra-se em estado de degradação.
Há seis meses, o prédio teve sua fiação furtada, e, desde então, opera de forma precária, com uma extensão improvisada. A precariedade, no entanto, atingiu seu ápice na madrugada deste domingo, quando o local foi arrombado. O espaço que guarda o arquivo da Comissão foi revirado, simbolizando não apenas um ataque material, mas uma ferida na memória coletiva de nosso povo.
Até quando a terra do maior folclorista do mundo tratará sua cultura com tamanho descaso? Até quando o centro histórico de Natal será relegado à negligência?
É hora de virar essa página da história. De exigir respeito à cultura, ao patrimônio público, às vozes e histórias que nos constituem. Não se trata apenas de preservar documentos e espaços, mas de defender o que somos, o que nos une e o que nos define enquanto povo.
Respeito! Respeito! Respeito aos equipamentos culturais do Rio Grande do Norte! Respeito ao centro histórico de Natal! Respeito à memória de Câmara Cascudo e àqueles que lutam por manter vivo o folclore e as tradições de nossa gente.
Natal, 25 de novembro de 2024.
Presidente da Comissão Norte-rio-grandense de Folclore
Gutenberg Costa
Filmagem denúncia produzida pelo arquiteto e pesquisador Nilo Emerenciano.
