Travessia de versos a Mossoró: uma jornada de poesia, memória e resistência

No sábado, 21 de junho de 2025, partimos ao nascer do sol — eu, Nando Poeta, ao lado dos poetas Marconi Branco e Jussiara Soares — com um propósito no coração e a poesia nas mochilas: reencontrar os acadêmicos da ANLIC-RN em Mossoró e recolher suas assinaturas para a documentação da nossa entidade, fortalecendo o elo entre os que fazem da palavra um gesto de pertencimento.

Escolhemos esse dia não por acaso, mas por sabermos que ali, na terra do Chuva de Bala, a poesia estaria em festa. Era a II Feira de Cordel Potiguar em Mossoró, organizada pela vibrante Comissão Mossoroense de Folclore (COMFOLC) em parceria com a Academia Municipal de Cordelistas (AMLC) e por tantos outros artistas da verve cordeliana. E, como se não bastasse, o III Festival de Repentistas do Nordeste acontecia no mesmo fim de semana, dentro do evento Mossoró Cidade Junina, no Memorial da Resistência, no Polo Cultural Antônio Francisco.

Chegamos por volta das 10h da manhã e fizemos parada obrigatória na Editora Queima Bucha, que este ano celebra 40 anos a serviço do cordel e da xilogravura potiguar. Recebidos com carinho por Gustavo Luz, confrade da ANLIC-RN, conversamos longamente sobre os caminhos do cordel mossoroense, suas raízes e ramificações. Ali, o tempo parecia andar em redondilha, até que o almoço nos chamou como um verso bem metrificado.

Fomos ao centro, almoçamos, seguimos para o alojamento gentilmente cedido pela Regional do Sindsaúde e, às 14h30, já estávamos de volta ao Memorial da Resistência. No espaço Cafezal, começava a tomar forma a feira: armamos nossa banca com cordéis, xilogravuras, discos de vinil, sonhos impressos em papel e suor. E, como se a cidade nos acolhesse com seu nome, caiu uma chuva fina e constante — não de bala, mas de bênção poética — e tivemos que nos abrigar na parte coberta do Cafezal, onde acontecia a exposição sobre a vida e a obra do mestre Antônio Francisco, presença luminosa do polo que leva seu nome.

Aos poucos, os poetas chegavam: Magaly Holanda, Amendoim, Gualter Alencar-Presidente da Academia de Mossoró, George Wagner, Zé Augusto, Alberto Queiroz, Elma Cunha e Gorete Alves, Matheus Moura,Raimundo… Todos com obras nas mãos e histórias nos olhos. A poesia pulsava na calçada e subia as escadas. Marconi Branco fez a voz de Natal ecoar no cafezal da cultura, Nilson Silva soltou seu canto e lançou seu mais novo livro, enquanto o som das declamações se misturava ao cheiro do café e ao riso molhado.

Do outro lado, no palco da cantoria, o repente brilhava com a força das duplas: Felipe Pereira e Raulino Silva, Antônio Lisboa e Damião da Silva, além da voz firme de Marcos Teixeira — confrade da ANLIC, da cidade de Pedro Velho — em sua declamação certeira. Tudo sob a batuta do poeta e coordenador Aldaci de França, guardião do Festival de Repentistas do Nordeste.

As horas passaram ligeiras. A feira chegou ao fim, mas o encantamento permaneceu. E foi ali, entre um poema e outro, que colhemos assinaturas importantes para a ANLIC-RN: Gustavo Luz, Aldaci de França, Zé Augusto. A de Antônio Francisco exigiu gesto mais delicado — com o auxílio de Zé Augusto, fomos até sua casa, respeitando seu estado de saúde e rendendo homenagens a esse pilar da poesia cordeliana.

Voltamos de Mossoró com a alma lavada de versos e o compromisso renovado: a ANLIC-RN deve seguir firme em sua missão de apoiar, reconhecer e fortalecer a produção cordeliana em nosso estado, conectando gerações e territórios em torno da palavra que emociona, une e liberta. Lá, semeamos a ideia de que Mossoró se mobilize rumo ao Congresso Nacional do Cordel, previsto para março de 2026.

Mossoró nos ensinou, mais uma vez, que poesia é ação coletiva — feita de chuva, chão e abraço.

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