LGBTQIAP+ Fobia na Cultura Popular entre povos e comunidades tradicionais e nas Periferias

 

por PRECIAWÁ PORÃNGUETÉ // Terreiro Pindorama

Antes de 1500 já existia povos que habitavam o Rio Grande do Norte. Chegaram outros povos e invadiram o continente antes conhecido como Pindo Abya Ayala ou como diz a lenda Pindorama.

Trouxeram Jesuítas que também invadiram para amansar a situação colonizando por poder eclesiástico, trazendo a demonização a qualquer diversidade, fosse ela de gênero ou raça. Impondo os padrões europeus estéticos de cabelos, aceitando a moda europeia como principal ponto de referência sobre estética humana. E até os dias de hoje queimando e apedrejando qualquer expressão de beleza que não seja europeu, principalmente no mundo moderno.
Vários direitos já foram conquistados em nome do orgulho de ser quem é e como é. Entretanto, de que orgulho estamos falando na sigla LGBTQIAPN+++. O Orgulho Branco da estética eurocêntrica, a reprodução da moda eurocêntrica como desmoralizando todo ser diferente disso.
No dia 1º de agosto de 2023 fui atacado Junto com uma bailarina transsexual no Teatro Alberto Maranhão durante o Coquetel de um buffet. O Garçom de pele parda, cabelos crespos e sua esposa que trabalhavam no coquetel disseram que eu deveria trocar uma taça de vidro por um copo descartável. Eu disse que isso jamais seria possível naquele momento, só devolveria a taça quando eu terminasse de beber o vinho. Não tinha a intenção de levar para minha casa. Meus trajes não eram de gala, mas na minha cultura seria roupas adequadas para celebrar deste modo os costumes da festa que também me abria oportunidade para isso.
Entretanto, após o vexame entendi que pessoas de periferias e trabalhadoras são doutrinadas pela colonização para odiar tudo o que é referente a eles mesmos. Isso é na cultura popular, nas artes, nas articulações dos movimentos sociais. Muitas vezes podemos entender que as aparências podem parecer diferentes e com suas essências coloridas, mas o LGBTQIAP+ que não se encaixa nos padrões da binaridade não estão aptos ao respeito nem devem ter orgulho do cabelo, da boca, do nariz, do jeito de ser, da comunidade onde mora e das suas histórias.
É colocado na sociedade que entremos em um universo de não aceitação sobre quem somos. Isso é referente a diversos abusos sociais, principalmente na demonização daquele corpo. É supernatural entre o linguajar dos manos, dos caras, um ao outro se referir com ofensas ou brincadeira. Esse homi é um viado, fresco, frango, boiola, bixa, sapatão, cola o velcro, entre outras expressões escabrosas.
Tudo isso no imaginário inconsciente na sociedade brasileira cria a marginalização dos corpos, das mentes. Portanto, a cultura que se criou é do LGBTQIAP+ no topo com poder aquisitivo, assim elos serão aceitos, admitidos, serão compreendidos por que tem dinheiro, fama e luxo. Mas quem não tem não vale nada e pode até ser acusada de roubar uma taça. Na minha cidade Natal a demonização e a competição adentra pelas portas de muitos setores, desde as políticas da prefeitura como a própria parada Gay, ou os próprios espaços LGBTQIAPN+ que descrimina pessoas que não estão dentro da estética elite padrão, principalmente aquelas que não tem dinheiro. Quando a LGBTQIAPN rompe essas estruturas e avança, principalmente na política, há uma chuva de ataques.
Se isso é na arte da mesma forma, relativizar para não compreender também uma estratégia colonizadora moderna, como também punitiva para os corpos periféricos sem direitos, muitas vezes a construir novas narrativas ou expressões públicas. A confiança na comunidade LGBTQIAPN+, indígena, preta, periférica, não acontece porque não existe esse espaço nem sequer na política. Somente nos bastidores ou na expressão mais exuberante como a parada Gay. Outras festividades presas ao centro da questão de incubamento, mas isso não é só na minha cidade, segue para todas ou quase todas. Portanto, a importância de preservar e continuar levantando esse debate, não para dividir, mas para entender o porquê não tem essa bandeira alí ou porque aquela ali não sai de casa. Ou aquele outro mudou de nome ou aquela está se vestindo diferente ou porque a depressão em pessoas LGBTQIAPN+ é uma coisa naturalizada.
É preciso muito mais do que essas palavras para dizer, lave seu preconceito, estenda-os no varal, observe e permita que o sol queime e o vento leve essas cinzas. Transformar a si mesmo é transformar o mundo.

PRECIAWÁ PORÃNGUETÉ, Multi artista, sacerdote da Jurema Sagrada, Sángòbiilayê, Terreiro Pindorama
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