por GUTENBERG COSTA // Pesquisador do carnaval natalense
Um índio de Erasmo Xavier (1904-1930). Foi capa da edição de Carnaval d’O Cruzeiro em março de 1933.

Sou natalense da gema e da feira do Alecrim, como todos já sabem, e pesquisador da temática momesca, mas, quando eu ainda estava lendo as notícias relativas aos antigos jornais de Natal e os nossos carnavais, observei a presença do artista decorador, carnavalesco Erasmo Xavier (1904-1930), renomado nacionalmente em carnavais cariocas dos anos vinte.

Suas artes já estavam estampadas em revistas de Natal como a famosa Cigarra e a carioca Cruzeiro. Digo e peço alarde aos estudiosos do nosso carnaval que a minha Natal é muito omissa e ingrata ao artista Erasmo Xavier.
Pouco se conhece a seu respeito e suas artes. Homenagens póstumas, nem se fala. Tomei conhecimento de sua história através de jornais e, mais ainda, minuciosamente, através da sua biografia escrita pela amiga jornalista e pesquisadora, sua familiar Rejane Cardoso, publicada em primeira edição de 1999. Portanto, a nossa esquecida Natal ainda não homenageou os nossos primeiros decoradores de ruas e clubes sociais fechados, em nossos carnavais do passado. Falta, historicamente e com justiça, lembrar o nosso renomado Erasmo Xavier, um natalense ilustre, caricaturista, paisagista, cenógrafo, artista gráfico e publicitário.

O jovem artista rebelde da pacata Natal foi mostrar sua arte na então capital do Rio de Janeiro. Natal era pequena demais para sua amplitude artística e seu mundo cultural. No Rio de Janeiro tornou-se discípulo do cenógrafo Raul de Castro.

Acompanhou artistas do teatro, participou da famosa revista O Malho e, como criativo e irrequieto artista carnavalesco, concebeu cenários para vários carros alegóricos de agremiações carnavalescas cariocas. Já nesse tempo se exigia boa arte no carnaval com o intuito de impressionar os desfiles momescos e chamar a atenção do então público presente. Cada agremiação caprichava em seus visuais, contratando renomados artistas para criarem seus carros alegóricos, segundo a historiadora Eneida Moraes, autora da conceituada História do Carnaval Carioca (1958). O nosso natalense Erasmo, foi um destes artistas do século XX.
Ainda nos anos 20, voltando à sua terra, agitou culturalmente a quieta Natal e seu carnaval do Aero Clube com uma elogiada ambientação decorativa, com a temática de uma Caverna de Mefistófeles para o carnaval de 1929.Em minhas pesquisas sobre o carnaval natalense, observei nos registros jornalísticos que as fachadas dos recintos de bailes carnavalescos eram luxuosamente decoradas todos os anos, como no Teatro Carlos Gomes (Alberto Maranhão), na Ribeira, Natal Clube, na Cidade Alta, e Aero Clube, no Tirol.
Erasmo Xavier foi amigo de muitos artistas de seu tempo, a exemplo do gênio Mário de Andrade. Recentemente, tomei conhecimento de que a amiga jornalista e pesquisadora Rejane Cardoso está em preparo de uma segunda edição ampliada da biografia do jovem artista Erasmo Xavier, que se foi precocemente deste nosso mundo, em 23 de abril de 1930. Mundo tão moderno e tecnológico, mas, que esquece rapidamente do passado e teima em não lembrar os nossos ilustres nomes artísticos e culturai, que só nos trazem um grandioso orgulho potiguar ao nosso presente.
Quarta-feira de Cinzas de 2022. Morada São Saruê, Nísia Floresta/RN.

 

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