Um olhar sobre o universo

 

por NILO EMERENCIANO // arquiteto e escritor
 
Dr. Ian Gray é um cientista, mais precisamente um biólogo molecular, que busca na pesquisa que desenvolve sobre as íris dos olhos humanos, a prova da não-existência de Deus, confirmando as teorias evolucionistas. Sofi, pelo contrário, é uma bela jovem existencialista que usa um olho de Hórus como amuleto e que fala sobre vidas passadas e coisas do tipo. Essas pessoas de tão diferentes formações e convicções se cruzam “por acaso” e se relacionam em um tórrido envolvimento amoroso.  As diferentes visões de mundo ficam claras quando, ao visitar o laboratório do namorado, Sofi pergunta se eles ali torturam minhocas.
É então que se dá uma reviravolta no enredo até então convencional. Um salto na linha de tempo nos coloca sete anos à frente. Sofi morreu em um dramático acidente. Dr. Ian está casado com a sua companheira de pesquisas, bem sucedido na carreira e acaba de ser pai pela primeira vez. Ainda na maternidade o recém-nascido passa por um sistema de identificação por um escaneamento ocular que vai, logo depois, revelar associações de memórias de alguém que já não existe mais.
As possibilidades são tão estranhas que levam o casal a aprofundar suas pesquisas e descobrir, na Índia, um par de íris semelhante aos de Sofi, a namorada morta, em uma garota de seis anos de idade. Claro que o dr. Ian vai em busca de desvendar o mistério, viajando até a Índia e usando o seu prestigio científico para localizar a criança dona dos olhos. Os testes não são conclusivos, mas a garota tem reações que convencem o doutor que ali está Sofi em novo corpo material. Emociona ver aquele cientista tão convicto em seu ateísmo derramar lágrimas quando defrontado com uma realidade tão dura para os corações empedernidos: a sobrevivência do espírito e a verdade das reencarnações.
Estou falando de um filme excelente, de 2014, mas que só agora pude ver. O Universo no Olhar (I.Origins). Não recomendo para quem prefere as produções da Marvel porque é filme que pretende provocar reflexões e não tem a espetaculosidade dos filmes de terror ou suspense. O diretor Mike Cahill conduz a trama com mão segura e quando achamos que vai rolar algo do tipo Stranger Things ele nos traz de volta à trivialidade mágica da vida das pessoas comuns. Talvez por isso tenha optado por atores menos conhecidos, todos muito bons. Michael Pitt faz o dr. Ian Gray e Astrid Berges-Frisbey encarna de forma perfeita a misteriosa Sofi. O roteiro (premiado no festival de Sundance) como em um processo dialético de perguntas e respostas, vai construindo aos poucos (no início não imaginamos o rumo que vai tomar) a trama que, ao não afirmar nada de forma conclusiva, provoca a nossa inteligência e deixa-nos entregues às muitas possíveis conclusões.
O diretor também não alude às pesquisas que hoje são feitas no meio acadêmico sobre o pós morte e a consequente continuidade da vida. E poderia fazê-lo, pois são tantas. De memória cito o dr. Ian Stevenson, da Universidade da Virgínia falecido em 2007, e o seu livro 20 Casos Sugestivos de Reencarnação (1966). Entre nós o prof. Hernani Guimarães de Andrade, colaborador do dr. Ian Stevenson, publicou Reencarnação no Brasil- Oito casos que sugerem renascimento (1987). Edith Fiori (Você já Viveu Antes, 1978), dra. Helen Wambach (Vida Antes da Vida,1988), dr. Raymond Moody Jr. (Vida depois da Vida, 1975), dr. Brian Weiss (Muitas Vidas, Muitos Mestres, 2013). São estudiosos, acadêmicos que reuniram coragem para enfrentar a desconfiança e o ceticismo de todos.
E já que estamos falando em cinema, há o ótimo Minha Vida em Outra Vida, feito a partir do livro de mesmo título, escrito por Jenny Cockell. É um relato autobiográfico impressionante de uma mulher que tem lembranças recorrentes de uma vida passada no interior da Irlanda. Compelida a ir em busca dessa família ela viaja até a cidade e consegue, vencendo muitos obstáculos, localizar a casa onde havia morado e reunir seus filhos espalhados.
Em A Volta (2009), o casal Bruce e Andrea Leininger narra, com profusão de detalhes, como o filho James desde os 2 anos de idade relatava lembranças de aviões e batalhas aéreas. Suas pesquisas os convenceram que James havia sido o piloto James Huston Jr., morto durante a segunda Grande Guerra, abatido pelos japoneses.
Os ateus também têm suas construções teóricas, sendo a melhor delas o livro Deus, um delírio (2006), de Richard Dawkins. O problema com Deus (2008), de Bart Ehrman também nos remete, por caminhos diferentes, às mesmas questões fundamentais.
Enfim, há pessoas sérias, despidas de preconceito e verdadeiramente interessadas em mergulhar nesses escaninhos do que para a maioria de nós ainda é mistério: Quem sou, de onde venho, para onde vou?
O cinema, ao fazer a abordagem de forma séria e neutra, presta sem dúvida nenhuma uma grande colaboração para, no mínimo, colocar esses temas em pauta. O jornal O Globo usava uns bonequinhos para avaliar os filmes. O bonequinho dormia, aplaudia, abandonava a sessão ou batia palmas de pé quando entusiasmado.
Para “O Universo no Olhar” meu boneco não só aplaude: salta, empolgado.
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