Tonha Mota: Uma estação da arte

por NANDO POETA
Ponto de Memória Estação do Cordel

ANTONIA MOTA DO NASCIMENTO, a Tonha Mota, natural de Taperoá/PB, radicada em Natal há mais de 40 anos, vivenciou toda sua infância e adolescência na cidade paraibana, convivendo no seu lar com pessoas ilustres como Ariano Suassuna, que cultivava uma relação de amizade com seus pais.

Ariano Suassuna visitava regularmente sua casa, e nas rodas de conversas sempre estava pautada as histórias do universo popular, dessas conversas com o poeta, escritor, dramaturgo, colheu muitas histórias, personagens dos bate-papos na varanda da sua casa. A menina Tonha, sempre bem atenta, gostava das histórias relatadas nas prosas, achava engraçadas, interessantes.
O seu universo ampliou ainda mais quando passou a acompanhar mais de perto o seu irmão Zé Vicente da Paraíba, autor de uma das canções que ficariam consagrada por Ruy Maurity e depois Zé Ramalho, “A Natureza”. O irmão se tornou um cantador bastante conhecido pelas plagas do sertão.
Foi nesse mar de arte popular que Antonia navegou nos mares cada vez mais poéticos, nas ondas da poesia deu suas braçadas, acompanhando o passo a passo do seu irmão poeta, que geralmente se encontrava nas noites de cantoria em que a jovem Tonha corria para mostrar seus trabalhos poéticos para o mano.
Vindo para Natal por motivo de trabalho, veio trabalhar em casa de família, ficando distante daquela intensidade poética. Mesmo de longe, acompanhava de perto pelas ondas sonoras do rádio. O tempo foi se passando, a vida dura do trabalho de empregada doméstica a impediu por um tempo de continuar na caminhada poética, mas não foi por muito tempo.
Saiu do país, foi para Portugal levada por uma família com a tarefa de conduzir a culinária daquele lar. Distante da sua terra natal, da sua cultura, guardava no peito as lembranças.
Retornando, floresceu às suas raízes. Certo dia passeando pelo centro da Cidade Alta, mas precisamente pela Rua Vigário Bartolomeu, encontrou um espaço que iria impulsionar novamente a sua relação com a poesia. Tonha descobriu a Casa do Cordel, era o primeiro lustro do início do século XXI. A partir daí, passou a conviver com as pessoas daquele espaço. Lá, Tonha Mota encontrou apoio e passou a publicar todas as suas produções. Em 2008 já declamava seus versos em um programa de rádio, passando a atuar como radialista com um programa Universo Cultural na Rádio Comunitária FM 90.3, espaço que utilizou para receber cordelistas e violeiros.
Tonha Mota, cordelista declamadora, compositora, intérprete, apoiada na sua história de vida com a vivência intensa com a poesia popular e a cantoria, avança na elaboração dos seus textos de cordéis, publicando várias histórias. Se tornou uma cordelista reconhecida nas terras potiguares e colocou os seus escritos para reafirmar a luta das mulheres que sofrem pela opressão de uma sociedade tão desigual. Tonha Mota tem afirmado que a arte do cordel é uma de suas paixões, uma bandeira que ela colocou em punho, abrindo um leque de possibilidades.
De 2009 a 2012 intensificou a sua produção literária, publicando diversos livros, um dos demais que mais chamou a atenção foi o “Sabores Di Versos”. Mas Tonha segue na caminhada da arte e abraça a música, compondo lindas canções da seara forrozeira, o baião, o xote, o forró, traz a leveza da ternura, alimentando a sua música de uma verve poética e romântica, embelezando o seu forró. Começa a interpretar as suas próprias canções que nas rodas de amigos foram fazendo sucesso. Muitos se encantaram com a lindeza de suas canções e começaram a incentivá-la a gravar um CD. Tonha, como sempre muito bem determinada, aceitou o desafio e lançou o seu primeiro CD “SAUDADE DE MINHA TERRA”, no ano de 2012. O segundo veio em 2019, com a marca “NORDESTE FEITO ALMA”. Aqui ela fala dos amores e das coisas de seu sertão, todos produção independente.
Tonha Mota buscou propagar a sua seara musical e se inscreveu no Forraço, sua música “Meu Segredo” foi classificada e ela vai e se apresenta com maestria. Com seu trabalho crescendo cada vez mais, começa a produzir seus próprios sonhos e organiza o Forró da Tonha, produzido na Estação do Cordel, na Praça Padre João Maria, Centro Histórico de Natal, sendo o palco de suas atrações. Tonha Mota também vai ampliando a sua agenda e começa a participar de outros eventos, como o Projeto Quinta Cultural, um espaço que valoriza a música e a poesia dos potiguares, das Feiras Literárias, como a FLIQ, entre outras.
A característica essencial de Tonha Mota é dialogar com várias vertentes artísticas. Além da poesia de cordel, do forró, Tonha Mota incorporou-se ao Bando de Fabião, ao Grupo Folclórico Folia de Reis e do Samba de Roda, todos os grupos formados nos Encontros da Estação do Cordel.
Tonha Mota, radicada nas plagas potiguares, já se considera uma norte-rio-grandense e no convívio com a nossa terra potiguar passou amá-la. Abraçou com afinco a sua produção poética e musical, com muitas de suas letras referendando os encantos dessa terra. A presença de Tonha na cena artística potiguar soma com numa magnitude, abrilhantando o nosso mundo cordeliano. Forrozeira, resgatando estilos que já estavam tão distantes de nosso universo, como a sua contribuição para o resgate na cidade de Natal do Samba de Roda.
Mas Tonha não se preocupou apenas com seu trabalho artístico, ela tinha um olhar para o movimento cultural, queria crescer, mas fundamentalmente sabia que o seu crescimento estaria ligado à sua articulação com o coletivo. Desde o início se soma ao projeto da Casa do Cordel, foi impulsionadora de todas as ações desenvolvidas naquele espaço até o ano de 2016. Depois funda com outros poetas a Associação Cultural Estação do Cordel, que hoje é um Ponto de Memória Estação do Cordel da nossa cultura. A partir desse trabalho conseguiu convergir para a praça várias vertentes artísticas que se somam; além do cordel, a cantoria de viola, o samba de roda, o chorinho, o slam, o coco de roda, as artes plásticas e tantas outras artes que interagem.
Se destacando com esse trabalho no seu primeiro ano de realizações, por ocupar a cadeira de número 33 da Academia de Cordelistas, foi convidada para a assumir a Presidência da Academia Norte-rio-grandense da Literatura de Corde (ANLIC/RN), assumindo a condução da Academia em 2018, hoje se encontra no seu segundo mandato. Nessa caminhada, Tonha Mota só tem contribuído para elevar a cultura do RN.
À frente da ANLIC/RN recompôs os quadros da academia com uma eleição histórica de 9 novos acadêmicos para preencher as vagas das cadeiras que estavam vazias, algumas que nunca haviam sido assumidas.
Hoje à frente da Estação do Cordel, é uma das impulsionadoras dos projetos desenvolvidos pelo espaço, incentivadoras para o surgimento de novas escritoras de cordéis, lançando os trabalhos de vários(as) poetas. É uma ativista do Movimento de Cordel sem machismo que surgiu durante a pandemia para combater a presença do machismo no movimento cordeliano.
Tem desenvolvido uma intensa campanha nas escolas, levando o cordel para o interior das unidades escolares, realizando oficinas para despertar o interesse do alunado pelo cordel, como também recebendo as escolas na Estação do Cordel.
Em 2021 recebeu o título de Mestre da Cultura Popular pela Funcarte e teve uma de suas obras de cordel, “O PRECONCEITO MATA”, selecionada pela Lei Aldir Blanc na Fundação José Augusto, realizando na época seu lançamento de forma virtual. Durante o lançamento que ocorreu numa das edições do Clube de Leitura da Estação do Cordel, teve a sala virtual invadida por ataques cibernéticos com conteúdo racista, machista e homofóbico. Tivemos que suspender o lançamento, mas realizamos em outro movimento, com a total solidariedade das pessoas, que debateram o preconceito no Brasil e a relevância do cordel “O PRECONCEITO MATA”, uma obra da importância de Tonha Mota

» Confira o vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=kjcGUxtzmB8&t=273s
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