Timbaúba dos Batistas: Bordados do Seridó Nos Uniformes Olímpicos do Brasil

As Olimpíadas são o evento esportivo mais grandioso do mundo, unindo nações em uma celebração de excelência atlética, espírito esportivo e diversidade cultural.

Para os atletas, é o ponto culminante de anos de treinamento e dedicação, enquanto para os espectadores, é uma oportunidade de testemunhar momentos históricos e inesquecíveis. Além de sua importância esportiva, as Olimpíadas também são uma plataforma global para destacar tradições culturais e inovações artísticas dos países participantes.

Neste contexto, o Brasil, conhecido por sua vibrante cultura e criatividade, aproveitou a oportunidade dos Jogos Olímpicos de Paris 2024 para apresentar ao mundo uma parte especial de sua herança: os bordados de Timbaúba dos Batistas, uma pequena cidade localizada na região do Seridó, no sertão do Rio Grande do Norte.

Com aproximadamente 2.400 habitantes, Timbaúba dos Batistas aceitou o desafio de bordar as jaquetas da delegação brasileira para os Jogos Olímpicos. Este feito não foi uma escolha ao acaso, mas sim um reconhecimento da rica tradição de bordados que a cidade preserva há séculos.

Os bordados do Seridó têm suas raízes na colonização portuguesa do século 18. As técnicas e os estilos aplicados pelas bordadeiras de Timbaúba dos Batistas são passados de geração em geração, mantendo viva uma arte que é tanto uma expressão cultural quanto uma fonte de sustento para muitas famílias.

No último fim de semana, após meses de trabalho meticuloso, a comunidade de Timbaúba dos Batistas concluiu a entrega de quase 2.200 peças. Essas jaquetas, adornadas com bordados de araras, tucanos e onças-pintadas, simbolizam a fauna brasileira e são um tributo à identidade nacional. Neste ano, em que a delegação brasileira conta com mais mulheres do que homens competindo pela primeira vez, a escolha das bordadeiras do Seridó para este trabalho é um reflexo apropriado da força e da criatividade feminina.

Salmira Torres, presidente da Associação das Bordadeiras de Timbaúba dos Batistas, compartilhou como o projeto se materializou. “Surgiu a ideia de o Instituto Riachuelo fazer os uniformes dos atletas das Olimpíadas, conhecendo o trabalho que a gente desenvolvia no município, de fazer a jaqueta com uma parte de produtos reciclados e botar pássaros e animais que representassem a fauna brasileira. Aí veio a onça, o tucano e a arara. Eles que criaram o design”, explicou.

O projeto olímpico é apenas um dos frutos de um trabalho contínuo de empreendedorismo e desenvolvimento comunitário em Timbaúba dos Batistas. Com o apoio do Instituto Riachuelo e do Sebrae, as bordadeiras têm recebido qualificação, consultoria em inovação e acesso a mercados. Renata Fonseca, coordenadora de projetos do Instituto Riachuelo, ressaltou a importância de conectar as bordadeiras diretamente aos consumidores finais, eliminando intermediários e valorizando o trabalho artesanal.

A tradição dos bordados em Timbaúba dos Batistas tem raízes profundas. Arysson Soares, genealogista e filho de Iracema Soares, a patrona da Casa das Bordadeiras, lembra como o declínio da economia do algodão levou sua mãe a empreender na arte do bordado, ensinando gratuitamente a técnica a muitas mulheres da cidade. Essa iniciativa transformou a vida de diversas famílias, proporcionando uma fonte de renda essencial.

Hoje, a Associação das Bordadeiras, a Cooperativa das Mãos Artesanais e a Casa das Bordadeiras são centros de qualificação e promoção do trabalho artesanal. Salmira Torres, também secretária municipal de Turismo, vislumbra um futuro promissor: “Queremos ampliar a Casa das Bordadeiras, implantar uma feira diária de artesanato, cultura e gastronomia. Acreditamos que o bordado ajuda a interiorizar o turismo. Temos recebido muitos turistas e, futuramente, Timbaúba vai ser um centro de distribuição”.

Com cerca de 700 pessoas envolvidas no bordado, quase um terço da população, Timbaúba dos Batistas reafirma sua identidade cultural e se destaca como um exemplo de preservação e inovação das tradições artesanais. Os bordados do Seridó, agora nos uniformes olímpicos, são um símbolo do talento e da dedicação das bordadeiras dessa pequena, mas notável cidade do Rio Grande do Norte.

[adrotate group="3"]

[adrotate group=”1″]

[adrotate group=”2″]

Mais acessadas