Indignação é uma palavra que impulsiona luta. Tudo a ver com o título dessa matéria, que escancara as fuças da violência contra mulheres. Uma questão política que move os movimentos feminista e negro.
Este 25 de novembro, Dia Internacional Pela Eliminação da Violência contra as Mulheres, chama ainda mais atenção para o refrão: “É preciso estar atento e forte / Não temos tempo de temer a morte”.
Os dados mais recentes (2020) da plataforma EVA – Evidências sobre Violências e Alternativas para mulheres e meninas do Instituto Igarapé revelam fatores de risco que precisam ser examinados com cuidado, a exemplo da raça e da etnia. “Observamos que o assassinato de mulheres negras e indígenas aumentou nos últimos 20 anos, enquanto o assassinato de mulheres brancas diminuiu”, observa a pesquisa.
De acordo com o levantamento realizado nos sistemas de saúde do SUS, metade das 3.822 mulheres vítimas de feminicídio foram assassinadas com armas de fogo em 2020, o que representa um aumento de 5,7% frente ao registrado em 2019. A maioria das mulheres assassinadas está na faixa etária de 15 a 29 anos (41%) e 30 a 44 anos (33%).
“O racismo estrutural impacta diretamente a posição que mulheres negras ocupam na sociedade. Infelizmente, a grande maioria delas têm menos acesso a serviços e estão mais propensas a sofrer todos os tipos de violência, e não recebem o mesmo suporte para os cuidados necessários”, afirma Renata Velar, pesquisadora responsável pelo estudo.
Segundo levantamento feito pelo Instituto Igarapé, entre os anos 2000 e 2020, mulheres representaram 32% dos assassinatos dentro de casa, enquanto que a proporção entre homens foi de 14%. As mulheres negras são as principais vítimas, representando 67% dos casos de feminicídio. Enquanto mulheres brancas representam 29,5% dos casos e as indígenas 1%. Uma escalada da violência que combina machismo e racismo. “Enquanto o feminicídio de mulheres brancas recuou 33% no período, o assassinato de pretas e pardas aumentou em 45%.
De acordo com os dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), em 2020, mulheres foram vítimas em 89% dos casos de violência sexual; 84% dos casos de violência psicológica; 83% dos casos de violência patrimonial; e 69% dos casos de violência física. Embora as mulheres entre 15 e 29 anos concentrem 38% das vítimas de todos os tipos de violência, meninas de zero a 14 anos correspondem a 58% das vítimas de violência sexual.
Ativismo
Diante de tantas desigualdades históricas, o dia 25 de novembro integra o calendário da Campanha 21 dias de Ativismo contra a Violência às Mulheres, promovida pela ONU, movimentos de mulheres e de luta contra as opressões em todo o mundo. A data foi criada em homenagem às irmãs Mirabal, três mulheres da República Dominicana que foram assassinadas, em 1960, por lutar contra o governo ditatorial de Rafael Trujillo. “O dia 25 de novembro é mais uma data para chamarmos a atenção para a grave situação de violência machista, que no caso das mulheres negras se agrava ainda mais com o componente do racismo. Uma situação que se agrava ao mesmo tempo em que a crise capitalista se aprofunda, e que em quatros anos de governo de ultradireita de Bolsonaro piorou ainda mais”, avalia Marcela Azevedo, integrante do Movimento Mulheres em Luta.
Nós utilizamos cookies para garantir que você tenha a melhor experiência em nosso site. Se você continua a usar este site, assumimos que você está satisfeito.Ok