Olimpíadas: Direitos humanos fora dos jogos

Charge: Latuff

O espírito esportivo das Olimpíadas que encanta o mundo, historicamente, joga para escanteio os protestos de atletas que ousam desafiar as regras.

O discurso da diversidade nos Jogos Olímpicos de Paris, que iniciou na sexta-feira (26/7), não conseguiu abafar o racismo e a denúncia por violação aos direitos humanos que o Comitê Olímpico Internacional (COI) fez de tudo para jogar longe do holofote das disputas esportivas. Logo na primeira partida do time israelense de futebol masculino (24/7) nas arquibancadas ecoaram gritos contra a matança em Gaza e o hino de Israel foi vaiado junto ao coro “Palestina Livre”.

As seleções da Argentina de Rugby 7 e Futebol Masculino também foram vaiadas durante o hino nacional. O motivo é a canção racista, xenofóbica e transfóbica cantada pelos jogadores do time de futebol após a conquista da Copa América, no início do mês.

“É proibido proibir”

Vale lembrar que os jogos olímpicos, apesar de posar como democráticos, proíbem qualquer manifestação. A regra 50 da Carta Olímpica prevê o banimento de atletas que assumam qualquer atitude política durante o evento. Fato que ocorreu nos jogos de 1968, na Cidade do México, após Tommie Smith e John Carlos chamarem a atenção do mundo para a segregação racial e a violência policial nos Estados Unidos. Na ocasião, após protestarem no pódio dos 200m rasos com os punhos levantados usando luvas negras, numa saudação ao Panteras Negras, ambos foram expulsos e proibidos de participar de outras provas, sendo obrigados a deixar o país imediatamente.

Diversidade ilusória

A abertura das Olimpíadas na quinta-feira escancarou a farsa do respeito à diversidade. Organizações dos direitos humanos denunciaram a expulsão em massa dos moradores de rua de Paris. Até 13 mil pessoas podem ter sido expulsas da cidade para que turistas possam curtir a festa olímpica sem vestígios da desigualdade social perambulando pelas ruas. Antes da cerimônia de abertura, dançarinos ameaçaram uma greve por melhores salários e direitos trabalhistas.

Nos Jogos Olímpicos de Tóquio, ocorridos em 2021 por conta da pandemia de Covid-19, entre os protestos registrados a atleta dos Estados Unidos Raven Saunders, negra e lésbica, então com 25 anos, cruzou os braços sobre sua cabeça para chamar a atenção da opressão que vinha enfrentando, logo após ganhar a medalha de prata no arremesso de peso feminino.

Na época, jogadoras de Grã-Bretanha, Chile, Estados Unidos, Suécia e Nova Zelândia se ajoelharam antes do início das partidas de futebol feminino em manifestação antirracista, o mesmo ocorrendo com outros países no futebol masculino. Protesto também executado pela ginasta Luciana Alvarado, da Costa Rica, que concluiu a prova eliminatória de solo com o punho erguido, apoiada em um joelho.

Em meio aos jogos da mordaça o mundo é aterrorizado pela infindável guerra na Ucrânia, o genocídio do governo de Israel contra o povo Palestino e catástrofes climáticas. Resta acompanhar se nestas olimpíadas os direitos humanos terão lugar no pódio.

[adrotate group="3"]

[adrotate group=”1″]

[adrotate group=”2″]

Mais acessadas