
Nos palcos do poder, os governos vestem-se de benevolência, prometendo mundos e fundos para os servidores públicos, especialmente em tempos de eleição. O cenário é sempre o mesmo: a educação, a saúde e os direitos trabalhistas surgem como prioridades absolutas. Mas, quando o espetáculo eleitoral termina, o pano cai e revela uma realidade bem menos glamourosa.
Na peça que se desenrola no Rio Grande do Norte, sob a direção da governadora Fátima Bezerra, a narrativa toma contornos de tragédia. Alegando uma queda na arrecadação do ICMS, a protagonista nos faz crer que o reajuste salarial dos servidores estaduais é impossível. A justificativa ecoa como um refrão já conhecido: “Não há recursos, o Estado está quebrado.” No entanto, enquanto a ópera do congelamento salarial toca para a maioria, nos bastidores, uma pequena elite desfruta de privilégios com uma sinfonia de reajustes generosos.
Eis que surgem os auditores fiscais, os grandes maestros da arrecadação, a quem o governo concedeu um aumento que desafia qualquer lógica fiscal: 161% de reajuste em suas gratificações! Não há necessidade de aprovação na Assembleia Legislativa, nem mesmo de parecer da Procuradoria-Geral do Estado. Sim, meus caros, o teatro da gestão pública revela que, quando se trata de cuidar dos seus, o governo atua com uma agilidade que faria inveja a qualquer dramaturgo.
Os servidores da educação, da saúde, e tantos outros, no entanto, são relegados ao papel de figurantes. Quando reivindicam seus direitos, são tratados com a rigidez de um diretor impiedoso: “Não há espaço para aumento nos seus papéis.” As greves surgem como protestos, gritos sufocados em um palco onde os holofotes nunca brilham para eles. Foram dias, semanas, até meses de paralisação no serviço público federal, enquanto aqui no estado, os educadores viram suas demandas de reajuste transformadas em longas e suaves prestações, questionadas agora pelo Ministério Público.
A ironia é gritante. O mesmo governo que clama pela austeridade para os mais humildes parece não ter problemas em engordar os contracheques daqueles que já estão no topo da pirâmide salarial. Enquanto um auditor fiscal pode receber, só de gratificação, quase 30 mil reais, os servidores da base mal conseguem respirar sob o peso dos seus salários congelados.
E o que dizer do Arcabouço Fiscal, recentemente aprovado pelo Congresso em parceria com o governo federal? Um verdadeiro muro de contenção erguido contra os reajustes salariais, uma obra-prima de desprezo pelos trabalhadores públicos. No seu encalço, governos municipais e estaduais seguiram o exemplo, negando reajustes e atuando com truculência contra aqueles que ousam lutar por dignidade.
Em Natal, o prefeito Álvaro Dias se agarra a esse arcabouço como uma tábua de salvação, negando o piso salarial dos educadores e a luta dos servidores da saúde. E, como não poderia faltar em um espetáculo de poder, entra na justiça para tornar a greve ilegal. A peça se repete em cada canto do país, com variações no elenco, mas mantendo o mesmo enredo cruel.
Assim, seguimos testemunhando essa tragicomédia. Para os mais ricos, as portas da fortuna continuam abertas, com o governo concedendo cada vez mais. Para os mais pobres, restam as migalhas e o silêncio forçado. Os direitos, uma vez celebrados como conquistas históricas, agora são arrancados das mãos dos trabalhadores com a mesma facilidade com que se apaga uma luz no final do espetáculo.
Mas, ao contrário do que os poderosos acreditam, essa peça ainda não terminou. No palco da vida real, os trabalhadores seguem ensaiando novas lutas, prontos para subverter o roteiro e reivindicar o seu lugar de direito, sob os holofotes da justiça social. Fique de olho nas eleições municipais!