
por FELIPE DE OLIVEIRA // professor e psicanalista
Entre pandemias e pão de menos…
Pesquisas recentes apontam um índice de 5% da população adulta mundial afetada por transtorno depressivo (revista especializada The Lancet). Creio que esse índice é até “otimista”, pois quem não está perplexo, angustiado, triste, “deprimido” e até em pânico diante da situação atual da humanidade?
Se não bastasse uma pandemia que parece não ter fim, temos ainda a recessão econômica gerada pelos sucessivos lockdowns e falta de um bom assessoramento científico do manejo sanitário da pandemia e seus efeitos. Além das desinformações lançadas, às vezes de forma inocente – às vezes de forma intencional, por grupos que politizaram a pandemia.
Ainda temos as ameaças de guerras, governos populistas com ares de autoritarismo acontecendo em países diversos, desastres socioambientais gerando catástrofes em várias partes do planeta, as migrações internacionais causadas por guerras religiosas – étnicas – políticas – empobrecimento e outras causas.
Esse cenário se encaixa bem naquelas três fontes de sofrimento segundo S. Freud. (1) O nosso corpo, sua fragilidade e finitude, (2) A grandiosidade da natureza, e, (3) nossos relacionamentos com os outros seres humanos. No primeiro item, pergunta-se, quem não se angustiou ou ainda está angustiado com a possibilidade de vir a morrer, ou seus parentes e amigos vitimados pela Covid-19? Segundo item, quem não está espantado com as catástrofes climáticas cada vez mais frequentes e destrutivas em nosso planeta? E, por último, vem o terceiro item levantado por S. Freud que é o incômodo de se relacionar com outros seres humanos. Essa dificuldade nos trouxe o aparecimento das “redes sociais” que exploram muito bem esse item, não só “facilitando” os relacionamentos e as comunicações. Por outro lado, aumentou o número de pessoas ludibriadas pelos mais diversos golpes e notícias tendenciosas ou falsas, as famosas fake news.
Outro fator que está surgindo com as “comodidades” da internet e a transformação pela qual a economia mundial vem passando, não só no modo de produção, mas principalmente na forma de negociação, distribuição, serviços, compra e pagamento desses serviços, que é o surgimento das empresas virtuais de taxi, os restaurantes fantasmas, as compras de livros em sebos virtuais, os atendimentos psicológicos e médicos virtuais, etc. Desse modo, levando várias pessoas ao desemprego ou ao trabalho intermitente, mal remunerado, precário e a ilusão neoliberal de que todes podem se tornar um empreendedor bem sucedido-a.
Enfim, quem não fica “depressivo” diante de tal cenário?