
O Dia Nacional da Poesia, celebrado em 14 de março, homenageia Castro Alves, um dos maiores expoentes do romantismo e da poesia social no Brasil. A data é um marco para lembrar a força das palavras na luta por justiça, liberdade e transformação social. Em Natal, essa celebração encontra um palco vibrante, onde a poesia pulsa nas ruas, praças, saraus e encontros literários.
A capital potiguar possui uma forte tradição na valorização da poesia, com movimentos que atravessam gerações. Desde o movimento do poema-processo, que na década de 1960 rompeu barreiras, passando pela poesia marginal e pelo Festival de Artes no Forte dos Reis Magos, até o Festival de Poesia e Música dos estudantes da UFRN e a atual cena de slams, cordéis e declamações populares, Natal sempre se destacou como um espaço de resistência e criatividade. Aqui, o Dia Nacional da Poesia vai além de um simples tributo a Castro Alves; é um momento de reafirmar a poesia como ferramenta de expressão e denúncia.
Nos últimos anos, iniciativas como o Café Poético, os encontros na Casa do IPHAN, o Sarau Insurgente e o fortalecimento da Estação do Cordel e da Casa do Cordel consolidaram Natal como um importante polo da literatura oral e escrita. No entanto, a cena poética na cidade enfrenta desafios. A falta de políticas públicas para a cultura, o fechamento de espaços culturais, como o Memorial Câmara Cascudo, o Museu Café Filho e o Museu de Cultura Popular, entre outros, e a dificuldade de publicação para autores independentes são obstáculos que colocam à prova a resiliência dos poetas potiguares.
Além disso, os artistas populares que possuem o Registro do Patrimônio Vivo (RPV) na Fundação José Augusto seguem desconsiderados pelo poder público, enfrentando atrasos de até cinco meses no pagamento da bolsa a que têm direito. Muitos artistas passam meses sem receber os cachês pelos shows realizados, tanto pela Fundação José Augusto quanto pela Funcarte. Esse descaso não pode ser silenciado, especialmente em um momento de celebração da poesia.
A arte não pode ser tratada como uma política de pão e circo. Ela é resistência, memória e identidade. Neste Dia Nacional da Poesia, é fundamental denunciar a negligência com os artistas e reafirmar a importância da arte independente. A palavra segue viva, ecoando nas vozes dos que fazem da poesia um ato cotidiano. Em Natal, a poesia não se cala. Enquanto houver versos, haverá luta.
Nesta data, também rendemos nossa homenagem aos poetas que já encantaram os saraus e comemorações do Dia Nacional da Poesia e que hoje nos deixam saudade: Voluntê, Grilo, Romildo Soares, Rodrigues Neto, Goreti Gaivota, Blecaute e tantos outros que fizeram da palavra um farol de resistência e beleza. Seus versos seguem vivos na memória e na voz dos que continuam a fazer da poesia um ato de transformação.
Aproveitamos também para expressar nossa solidariedade ao artista dos palcos Rodrigo Bico, que tem enfrentado questionamentos sobre o financiamento de projetos do seu grupo artístico. Acreditamos que todo artista deve ter a oportunidade de expor suas considerações e esclarecer os fatos. Por isso, é fundamental garantir um espaço para que ele possa se explicar e trazer à público sua versão sobre o ocorrido, de forma transparente e justa.
A arte é independente e, como tal, não se silencia diante de qualquer tipo de ataque.
ASSINAM:
Entidades:
- Academia Norte-Rio-Grandense de Literatura de Cordel (ANLIC-RN)
- Academia de Trovas do Rio Grande do Norte (ATRN)
- Academia Mossoroense de Literatura de Cordel (AMLC)
- Ponto de Memória Estação do Cordel
- Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do RN (SPVARN)
Personalidades:
- Gualter Alencar do Couto – Presidente da Academia Mossoroense de Literatura de Cordel (AMLC)
- Gutenberg Costa – Presidente da Comissão Norte-rio-grandense de Folclore