Não existe cultura afroameríndia

 

por UBIRATÃ AMARAL DOS SANTOS / @u_bira_tao
Imagem do sec. 17 de Janduí, liderança indígena, pintada por Albert Erckhout.

O termo “afromeríndio” é utilizado no território sequestrado pelo estado brasileiro para apagar as matrizes culturais indígenas. Seu uso é marcante na classificação usada pela antropologia para culturas de terreiro.

O fato é que toda cultura considerada brasileira tem uma base indígena. No processo de colonização, alguns povos europeus e africanos se encontraram com os mil povos que aqui habitam. Em um nível ou outro as culturas estrangeiras englobaram características das culturas (indígenas) que já estavam adaptadas ao território invadido. Do mesmo modo, as culturas originárias absorveram influências estrangeiras. Essas influências não descaracterizam os povos, à medida que eles cultivam suas culturas ancestrais em um novo contexto (pós invasão).
A jurema sagrada e o catimbó são culturas de terreiro majoritariamente indígenas, seus nomes vem do tupi e a jurema é uma planta nativa da ka’atinga. Entretando, a classificação antropológica insiste num termo que põe o “afro” antes do “ameríndio”, isso gera a falsa impressão de que a raiz indígena é um elemento secundário no exercício dessas culturas.
O termo em questão, talvez, seria mais apropriado para se referir ao candomblé ou à umbanda. Que é majoritariamente afro, mas cultua também entidades indígenas e utiliza ervas nativas nos seus rituais. Como esse não é o uso empregado, fica clara a estratégia de etnocídio no seu uso que tem consequências políticas e sociais profundas, como a exclusão dos juremeiros nas reinvindicações do mov indígena e o apagamento identitário dos seus praticantes.
O território invadido, após 1492, habitado por milhões de nativos, foi recebendo o estrangeiro aos poucos e a cultura originária se estabeleceu como base para a maioria das culturas que são compreendidas como brasileiras, com poucas exceções. Mas as contribuições indígenas não são reconhecidas quando estão em dialógo com as culturas estrangeiras e são colocadas como secundárias mesmo quando são a raiz principal de determinada cultura. Logo, se para o candomblé é usado o termo “afro”, se é apontada apenas a influência majoritária, então não existe jurema afroameríndia, o termo certo é indígena! A matriz é nativa! A cultura é originária!
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