Mutirão reafirma a potência cultural da Zona Norte de Natal

Noite de terça-feira [17/6], a rota da Política Nacional Cultura Viva atravessou a ponte rumo à zona norte de Natal. O Complexo Cultural da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) foi o palco de um mutirão de mapeamento cultural organizado pelo Pontão de Cultura e Comunicação / Cecop/RN.

Em meio ao zum-zum-zum do mutirão, o Coletivo Foque soltou o grito da imprensa livre que não descola da identidade social, política e cultural do nosso povo [através de ações e produção de conteúdo que agrega comunicação popular e diversidade cultural].

Apesar da brevidade dos relatos, o mutirão registrou a potência cultural produzida nas comunidades. Sem contar inumeráveis projetos engavetados, sufocados pela ausência de uma política de fomento efetiva, capaz de sustentar a cadeia produtiva cultural periférica [que agoniza em praça pública].

“TECER O FIO, PUXAR A TEIA”

O Mutirão de Mapeamento Cultural é fundamental para o trabalho de articulação e diálogo, visando a construção coletiva de políticas públicas para a cultura. Tanto quanto é preciso colocar em prática o princípio do Ponto de Cultura, como explica o seu idealizador, Célio Turino: “Eu tirei esse nome a partir de um conceito matemático do Arquimedes – Dê-me um ponto de apoio e uma alavanca que moverei o mundo”. Daí, não basta certificar o Ponto de Cultura. É preciso descentralizar e democratizar os meios de produção. A lógica dos editais de premiação, que coloca grupos culturais e artistas para competir entre si, vai na contramão do princípio da Cultura Viva que é a colaboração. O resultado desse disputado ringue dos editais é a eliminação [por nocaute técnico] de uma diversidade de projetos que são excluídos de uma política pública que deveria acolhê-los.

“COM R ESCREVO RIMA RIMANDO NA RUA TORTA”

O rap potiguar de Carcará na Viagem exerce seu ofício rimando na rua as lições de uma Educação Popular que ensina a tomar consciência acerca do mundo. Aprender e ensinar essa lição é condição fundamental para se falar em retomada da Cultura Viva e dos Pontos de Cultura [com foco na potência contida nas comunidades]. “O Brasil de baixo para cima não pode ser discurso, tem que ser ação cotidiana, prática verdadeira”, reforça Célio Turino, fazendo coro com a rima da resistência. Não à toa, a lição do educador Paulo Freire mostrou que “a apropriação da linguagem pelo oprimido é um ato potencialmente revolucionário”.

“SÃO OS DONOS DA MARGEM QUE NÃO ME DEIXAM NADAR”

A musicalidade da banda Ponta d’Lança Potiguar [nascida na zona norte de Natal] dá o tom da diversidade cultural que é descartada por quem criou a margem. Assim sendo, em meio a longa espera do busão superlotado, a população da zona norte convive com o desamparo à cultura que é centralizada do lado de lá da ponte. “Nós correspondemos a 40% do território da cidade do Natal e 40% da população” da capital potiguar, aponta a professora Irene van den Berg, gestora do Escola de Extensão da UERN ao chamar a atenção para a importância de quase metade da população de Natal morar na zona norte. “E óbvio que onde tem gente tem cultura. Então, a gente precisa mudar essa página, a gente precisa fazer uma virada na zona norte”, observa a antropóloga.

Além do cadastramento de grupos culturais, o mutirão reafirmou a força de uma rede colaborativa que atravessa a zona norte de ponto a ponto. Nesse passo da resistência o Coletivo Foque segue amplificando as vozes de movimentos sociais e culturais, como o Grupo Alternativo de Mulheres Independentes [GAMI], Batuque de Mulheres e 8 de março na Redinha, Movimento Cultural Nossos Valores, Movimento Indígena Okarusupytã, Kurta na Kombi, a galera do Hip Hop, do Skate, oficinas de imprensa livre, entre tantas articulações artísticas e culturais que fazem acontecer a Cultura Viva nas comunidades.

A palavra de ordem é “avançar de mão dada com quem vai no mesmo rumo”, como bem disse o poeta Thiago de Mello, com a tarefa de tornar a Cultura Viva acessível nos dois lados da ponte.

Ao final do mutirão, o grupo de matriz africana do Ponto de Cultura Terreiro Mestre Manoel Quebra Pedra encantou a plateia com o seu canto ancestral.

Gorete Gomes / GAMI
Carcará / Movimento Nossos Valores
Irene van den Berg / UERN
Alcides Sales / Okarusupytã
Raimundo Melo / Pontão de Cultura/Cecop

 

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