
Antes da pandemia a cultura e seus artistas já eram vítimas de todo tipo de ataque por parte do atual governo com atos de censura, desqualificação de políticas públicas e até extinção do ministério, que passou a ter status de uma secretaria especial manipulada por outros ministros – primeiro, da Cidadania, depois do Turismo.
O ESTADO DE ÓDIO foi transformado em política de estado de um governo adepto da ignorância. Nesse cenário, a cultura passa a ser um alvo preferencial do desmonte público. Vem a pandemia da Covid-19 e dá o golpe decisivo, deixando a cultura fora de combate. Em coma. “A luz apagou, o povo sumiu”
SEM NENHUM SHOW em execução, fazedores de cultura respiram em meio a agonia generalizada. Artistas de todas as áreas culturais reinventam novas formas de seguirem com o pé na estrada na tentativa de superar os desafios que têm pela frente. Em junho de 2020 é sancionada a Lei 14.017 de apoio à cultura, chamada de Aldir Blanc (LAB) em homenagem ao bravo compositor brasileiro que faleceu em maio do ano passado.
NA AVALIAÇÃO DO MOVIMENTO NACIONAL Sou 1 de 11 milhões de Trabalhadores da Cultura, “a Lei Aldir Blanc foi a vitória dos partidos que historicamente atuam a favor da cultura e significou, de certa forma, uma vitória sobre o pensamento obscurantista do governo atual”. O movimento que surge como mobilização popular com o propósito de reafirmar o respeito pelos trabalhadores da cultura, analisa que “o setor das artes hoje acumula uma perda análoga de mais de 80 fabricas da Ford em empregabilidade e investimento. Certamente o empenho do recurso destinado pela LAB ofereceu um respirador para uma parte do setor ganhador dos benefícios, mas acima de tudo trouxe uma nova percepção de possibilidades de sua viabilização, como um impulso efetivo das novas relações da Cultura x Estado”.
Afirma, também, que “o sistema público de apoio à cultura sempre utilizou, de forma covarde e dirigista, a falta de conhecimento e capacitação dos seus trabalhadores e profissionais, mantendo seus redutos de interesse através de propostas ‘chamadas’ democráticas de distribuição de recursos via editais esquizofrênicos e contratações mal explicadas e desnecessárias para importantes polos culturais espalhados em todo o território nacional”.
Na opinião do movimento a execução da Lei Aldir Blanc ressaltou “a falta de diálogo, competência e proximidade dos gestores públicos”. Um cenário que revelou não somente insensibilidade, mas também os preconceitos estruturais em relação aos trabalhadores e suas necessidades.
“O caso do RN não foi diferente, a falta de transparência nos processos vem esgotando as forças dos trabalhadores locais que se encontram sem amparo devido a respostas não concretas e aplicação indevida dos recursos da LAB. Aliás, não houve Estado que não tivesse se confrontado com importantes reações das comunidades culturais quanto ao mal uso dos recursos e editais mal elaborados, sendo que ainda estão pendentes de liberação para apoio mesmo diante de um setor que está estagnado, mas que em 2019 representou 2,6% do PIB Nacional”, observa o Movimento Nacional Sou 1 de 11 milhões de Trabalhadores da Cultura.
Esclarece ainda que desde outubro de 2020, vem recebendo denúncias, em âmbito nacional, de má utilização das verbas, pagamentos de projetos contemplados que não saíram até hoje, erros de gestão inadmissíveis. Um panorama do que realmente está acontecendo no país “diretamente da boca do trabalhador da cultura, que é quem está vivendo na pele todas essas questões”.
EM MEIO A TODA ESSA CRISE muitos fazedores de Cultura continuam enfrentando dificuldades pelo Brasil afora. O repasse dos recursos da Lei Aldir Blanc no valor de R$ 3 bilhões a estados, municípios e Distrito Federal não foram suficientes para socorrer o setor em seus mais diversos segmentos. Ainda mais considerando que a excessiva burocracia foi uma pedra no meio do caminho para muitos projetos culturais que foram inabilitados e jogados na rua da amargura.
DADOS DO RELATÓRIO parcial da Lei Aldir Blanc revelam que até o final de 2020, ainda restavam R$ 1,4 bilhões em conta (49% do montante disponibilizado pelo Governo Federal). Diante deste cenário, foi editada a Medida Provisória – MP 1019/2020, que permitiu a continuidade da execução financeira no ano de 2021 dos recursos empenhados e inscritos em restos a pagar em 2020. A medida possibilitou que aproximadamente R$ 700 milhões fossem pagos entre janeiro e março deste ano.
Ao avaliar as ações desenvolvidas pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo relacionadas à Lei Aldir Blanc, uma auditoria do TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO (TCU) ocorrida em maio passado, entendeu que “os recursos repassados ao setor cultural, por se tratar de transferências obrigatórias da União, podem ser utilizados até o final de 2021, mesmo que não tenham sido empenhados e inscritos em restos a pagar em 2020, considerando o que estabelece o parágrafo único do art. 8º da LC 101/2000 – LRF”.
Segundo a matéria publicada no portal TCU, na mesma data do Acórdão, “A Lei 14.150/2021 – que modifica a Lei Aldir Blanc e também prevê a possibilidade desses recursos em 2021, independentemente da inscrição em restos a pagar em 2020 –foi vetada parcialmente. Dessa forma, a regulamentação anterior que condicionava a execução em 2021 à prévia inscrição em restos a pagar foi mantida. Tal situação pode tornar-se fonte de insegurança jurídica para os gestores subnacionais e deverá ser objeto de monitoramento do Acórdão 1118/2021 – Plenário”.
De acordo com o PAINEL DE DADOS DA LEI ALDIR BLANC, atualizado em 18/10/2021, ainda resta um saldo de 628,7 milhões em contas dos estados e municípios. O RN executou 84,9% dos R$ 33,2 milhões recebidos do governo federal, restando o saldo em conta no valor de R$ 5 milhões.

Cipriano Carvalho, DIRETOR FINANCEIRO da Fundação José Augusto (FJA), esclarece que “esses cinco milhões que tem aí” é a soma da sobra de R$ 1.809.785,21 mais R$ 1.521.000,00 do auxílio emergencial cultural. “Essa diferença são impostos dos processos que foram descontados e ainda não repassados para o estado de volta, isto quer dizer, quando desconta o imposto de renda dos beneficiários aí repassa ao estado, uma parte ainda está sendo repassada. Essa diferença ainda está na conta, mas não é mais nossa, é na verdade da Receita Federal”.
