Homenagem aos mártires

 

por EDILSON FREIRE MACIEL
Manoel Lisboa e Emmanuel Bezerra. Arte: Welfeson Alves

Homenagem aos mártires Emmanuel Bezerra dos Santos e Manoel Lisboa de Moura, extensiva à Anatália Aalves, Ranúsia Alves Rodrigues, Vitorino Alves Moitinho, Ramires Maranhão, José Silton Pinheiro, Almir Custódio de Lima, Manoel Aaleixo, Olavo Hansen…

Os sobreviventes
Tem a tarefa infinita
De rememorar a tragédia
E enlutar os mortos.
(Fichte)
Falar sobre Emmanuel Bezerra e Manoel Lisboa é discorrer sobre mártires e todos os mártires assemelham-se aos santos-mártires, pois ambos tiveram suas vidas ceifadas, motivadas por um ideal ou uma crença.
Eles tinham um ideal humanista, suas potências intelectuais e de vidas estavam exclusivamente voltadas para os despossuídos. Conduziam-se como intelectuais orgânicos da classe trabalhadora, numa condição extremamente adversa à produção intelectual e à organização de classe.
O entusiasmo de Manoel e o espírito poético e centrado de Emmanuel, transcendiam a comum militância. Eram formadores, educadores políticos com uma extraordinária interpretação política da realidade e uma inabalável confiança no futuro, na revolução, de uma dedicação apaixonante.
Tal condição eleva-os a serem duplamente mártires, pois segundo os Mulás, os que morrem por amor, morrem como mártires.
Esse é o mais nobre sentimento humano e seus algozes movidos pelo ódio, pelo desprezo à vida, jamais compreenderiam que o amor se eterniza. Quanto ao ódio, medra e fenece nas almas pequenas.
Manoel, ao ser sequestrado, portava consigo uma relíquia, uma mecha dos cabelos da Senhora Sua Mãe. Essa saudade ele não pode aplacar, seus últimos momentos na prisão foram de grande sofrimento e dor. Poupo o leitor das inimagináveis torturas por que passou.
Emmanuel, ao deixar a casa dos pais para estudar em Natal, trazia consigo uma tradição espiritual familiar, um crucifixo pendurado ao pescoço.  Essa a imagem que a Sua Mãe retinha do filho ao se despedir e que ela desejava imensamente rever.
Durante toda sua ausência, seu quarto foi mantido impecavelmente arrumado. Ela tinha muita fé que seu filho estava vivo e retornaria, que viria a deitar em sua cama, carinhosamente coberta com tecido estampado para o receber.
Infelizmente, Emmanuel teve o mesmo destino trágico de Manoel, passou também por inimagináveis torturas e seus últimos momentos na prisão também foram de grande sofrimento e dor.
A Sua Mãe deixou o mundo dos vivos, acredito, antes de saber tamanho martírio que passou seu amado filho.
Seu sonho se cumpriu, porém, de forma trágica, a urna com os restos de seu filho foi colocada sobre a tão sonhada cama, sob o olhar profundo e entristecido do seu velho Pai.
Uma tragédia vivida há quase um terço do final do século XX e assemelha-se à tragédia grega de Sófocles, “Antígona” (496 – 406 a.C.).
Quantas “Antígonas” no país sem ter o direito de enterrar seus entes queridos?
O que não veio à luz do simbólico acontece no real” (Lacan)
“Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus, se eu deliro… ou se é verdade tanto horror perante os céus!?” (Castro Alves)
Memória, Verdade e Justiça!
Punição aos torturadores!
Ditadura Nunca Mais!
4 de Setembro de 2023
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