
Os Mendonça realizam a Festa da Castanha anualmente durante o mês de agosto, evento que representa um importante momento de revitalização cultural, de fortalecimento da identidade étnica e das lutas desse grupo familiar indígena no estado do Rio Grande do Norte. É uma das celebrações mais importantes da comunidade, que se localiza no município de João Câmara, região do Mato Grande. Mais do que um momento festivo, essa celebração representa a força da memória social, a resistência e a identidade cultural desse grupo familiar, que há gerações mantém viva a relação com seu território. Nos dias 29 e 30 de agosto do ano de 2025, aconteceu a 11ª Festa da Castanha com uma importante programação etnocultural do grupo familiar Mendonça.
A castanha de caju, beneficiada na comunidade de forma artesanal, é o símbolo central da festa, pois sustenta parte da economia local e marca a vida cotidiana da comunidade, que se dedica à sua produção e comercialização.
O beneficiamento da castanha envolve um trabalho coletivo intenso, reunindo as famílias Mendonça num processo cuidadoso, que se caracteriza por diversas etapas no processo de sua produção, desde a seleção das castanhas, passando pela torragem, em seguida, pelo esfriamento, a “quebra” da castanha e finalmente, a última etapa, em que se retiram as películas, dando lugar a uma amêndoa lustrosa e de sabor agradável.

A Festa da Castanha é mais que uma festividade, pois expressa a conexão entre o povo indígena, a natureza, a resistência e a ancestralidade. Durante seus festejos, a comunidade reúne-se em momentos de partilha, rituais, danças, cânticos, comidas tradicionais, valorização de sua cultura, pintura corporal, comercialização de seu artesanato e difusão de saberes e tradições do povo Potiguara.
A abertura inicia-se com o ritual do toré, por meio do qual são dadas as boas-vindas aos convidados e a todos os presentes.Durante o evento, os indígenas Mendonça falam de suas histórias, memória social, reforçando as conexões identitárias do grupo com seus antecessores indígenas que ali chegaram há quase duzentos anos, vindos da Paraíba e se estabelecendo no Rio Grande do Norte.

Como parte da programação, os visitantes realizam trilhas numa caminhada conduzida por guias até à Pedra das Letras – sítio arqueológico onde se encontram inscrições rupestres, um lugar de memória, onde antepassados indígenas imprimiram sinais nas rochas num passado remoto.

Durante o evento, destaca-se também a comercialização de produtos derivados da castanha e de artesanato indígena, especialmente os produzidos pelo grupo Motyrum-Caaçu (fundado em 2008 e premiado na edição Chicão Xucuru do Prêmio Culturas Indígenas). Os artefatos, confeccionados com sementes, fibras, penas e cabaças, expressam valores estéticos e simbólicos da cultura Potiguara, além de gerar renda para as famílias.
Por fim, a Festa da Castanha assume igualmente dimensão política, ao reafirmar a luta do povo Mendonça pelo território e pelos direitos indígenas. Trata-se, portanto, de um espaço de resistência cultural, de fortalecimento da identidade étnica e de celebração da vida, no qual se entrelaçam memória, economia, espiritualidade e luta política.
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// Fotos: Lenilton Lima
















