
Hoje, no Dia Internacional dos Direitos Humanos, o Brasil nos obriga a lembrar que direitos não caem do céu: são frutos de luta — e continuam sob ataque.
Ontem, no Congresso Nacional, assistimos a mais um capítulo sombrio da velha política do Centrão — essa máquina de moer direitos que segue firme graças aos tapetes vermelhos estendidos por todos os governos, sejam os de esquerda do PT e seus aliados, sejam os das inúmeras variantes da direita, todos adeptos do toma lá, dá cá que alimenta e sustenta o capitalismo e sua exploração. A cena que vimos não foi um tropeço isolado: foi a reprodução nítida dos métodos que marcaram a ditadura civil-militar de 1964 a 1985. A diferença é que, agora, tudo acontece sob um governo que se diz de esquerda, mas que insiste em apostar sua governabilidade justamente na aliança com o que há de mais apodrecido na política brasileira.
Muitos dizem hoje que o Congresso virou um retrocesso. Eu me pergunto: quando ele deixou de ser?
Se em outros momentos recuou, foi porque a pressão das ruas emparedou essa casa histórica de privilégios. Foi o povo quem barrou ataques, nunca os acordos palacianos. A mesma composição que aprovou privatizações, destruiu direitos trabalhistas, atacou a previdência e prepara agora a reforma administrativa segue confortavelmente sentada nas cadeiras do poder, cadeiras que seguirão intocadas enquanto acreditarmos que basta “mudar a cor” do parlamento para mudar o país.
A esquerda institucional repete a ilusão de sempre: é preciso mudar o Congresso. Mas como mudá-lo se abandonamos as trincheiras das ruas? Como mudar a essência do Estado burguês negociando com as mesmas elites que promovem desigualdade, destruição ambiental e fome? Basta olhar para o atual governo de Lula: ministérios trocados por votos, cargos negociados como mercadoria, alianças com aqueles que ontem, e hoje, conspiram contra qualquer avanço popular. O caminho da conciliação nunca levou à emancipação; sempre pavimentou golpes.
Neste 10 de dezembro, data nascida do horror da Segunda Guerra Mundial, quando o mundo jurou que nunca mais permitiria tanta morte, tanta miséria e tanta humilhação humana, o Brasil nos mostra que os direitos humanos continuam sendo pisoteados, e não apenas pela extrema direita, mas pela lógica de um sistema inteiro sustentado pela exploração dos de baixo.
O episódio de ontem, em que o deputado Glauber Braga ocupou a cadeira da Presidência da Câmara em protesto para defender seu mandato, hoje ameaçado de maneira injusta, escancarou a lógica perversa que reina no Congresso: dois pesos e duas medidas. Glauber foi recebido com violência por denunciar um absurdo, enquanto, em situação idêntica, parlamentares bandidos que tomaram a mesa diretora foram tratados com cordialidade e complacência. Para os poderosos, proteção; para quem ousa desafiar, repressão. A polícia legislativa, que deveria resguardar a ordem democrática, só age quando os privilégios dos de cima são arranhados.
A lição está diante de nós, basta querer enxergar.
Não haverá saída pelos salões acarpetados de Brasília. Não haverá salvação no jogo das alianças com a burguesia, nem nas promessas de governabilidade que só governam contra o povo. A única saída possível está na organização consciente da classe trabalhadora e da juventude, na retomada da luta direta, nas ruas, nos locais de trabalho, de estudo e de moradia.
É preciso reconstruir a consciência socialista, aquela que aponta para além da miséria administrada, que não se satisfaz com reformas tímidas, que sabe que a riqueza da nação é produzida pelos trabalhadores, e roubada pela minoria que governa. Enquanto a fome avança, o desemprego cresce e o povo é empurrado para a violência, o governo libera petróleo na Amazônia e engorda o agronegócio na COP 30. Nada disso é acidente: é projeto de classe.
Estamos fartos dessa peleja travada com as mãos amarradas. Precisamos tomar o destino nas nossas próprias mãos. Ou escolhemos o caminho da luta e da revolução, ou seremos arrastados para a barbárie.
Que este dia, marcado pela memória dos que lutaram pela dignidade humana, sirva como um chamado urgente: é hora de despertar, organizar, enfrentar. É hora de fazer nascer a força dos que sempre sustentaram este país, mas nunca governaram de fato.
Ou avançamos juntos rumo à transformação socialista, ou seremos esmagados pelos golpes que virão.
A história não espera. A luta chama.








