Preciawá Porãngueté (Acostado com a Mestra Felipina). Casa Tenda do Mestre Zé da Virada – Jardim Progresso. Foto: Aline Morais
Nasci na Mata e fui batizado no Rio Araraí, quando a coral verdadeira apareceu para me picar, mas enrroscou-se em meus pés, sendo morta depois pelo meu Pai Severino do Vale, quilombola de Xique Xique e Brejo.
Nasci em família nômade, assim como os meus ancestrais, os Tarairiú ou Ariú. Aldeados em Mipibú, com a colonização foram para a terra de Brejo, no feitio da Farinha de Mandioca, hoje conhecido Terra da Farinha Brejinho. Foi lá onde meu Pai e Minha irmã se enterraram, juntos com minha bisavó, avó, avô e bisavô, paternos e maternos, e possivelmente parte de minha família que reside na esfera do Brejo ou Brejinho.
A Guerra dos Bárbaros trouxe uma dimensão de aprofundamento das questões territoriais, por algum motivo tudo não era mais Originário. Mas na cidade do Natal, onde tenho vida nascida, não se ouviu ou ainda ouvi falar sobre Indígenas. Na escola onde estudei, Ambulatório Matias Moreira, me disseram que Indígenas (Índios) morreram. Vi a Xuxa bater na boca e cantar sobre Índios. Mas os Índios não vieram.
Os Encantados, assim como no filme do Harry Potter, me visitaram aos 15 anos, em sonhos e projeções astrais. Como um adolescente cristão condenei todas as manifestações espirituais ao demônio, mas com a visita dos Encantados não tive mais como negar aquela realidade. Fui levado a um terreiro de Catimbó ao 16 anos na Comunidade Jardim Progresso, ocupação periurbana na Zona Norte de Natal. Incorporei entidades e Encantados daquela gira, Pomba Gira, Exu, Caboclos e Mestres. Seres da Natureza. Com tudo isso me disseram que eu era Macumbeiro e foi o que eu quis para minha Macumba.
Aprendi a fumar Cachimbo, mesmo achando horroroso, assim como minha avó fumava. Não queria o cheiro, mas não sabia que o Catimbó não passa de uma tradição de quem fuma Cachimbo, com a fumaça como quinto elemento que habita o mundo dos vivos e dos mortos. Eu saberia que estaria em contato com os mortos de outros mundos. Saberia que se abriria portas e dimensões para que passasse sobre a mata. Meu Cachimbo girei em uma Macumba Indígena cheia de Caboclos e Caboclas, certamente, esquecidos no tempo, nas periferias.
Sem estudos me iniciei na Jurema do Acais. Não sabia que um velho Catimbozeiro o qual eu escomungava como Cristão no Bairro Nazaré, onde cresci, também seria o líder daquela tradição, assim como outros Mestres que viveram e eu os vi em vida. Mestres Catimbozeiros. Então, me tornei Catimbozeiro ou Catimbozeira, depende da ocasião.
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