Copa do Mundo no Catar: Craques ativistas desafiam a Fifa dentro e fora de campo

Charge: Carlos Latuff

Saudade do tempo em que o futebol era motivo de honra, dentro e fora de campo. E de atletas craques em lutas sociais.

Houve aqueles que ousaram se levantar contra o racismo, como é o caso do ídolo do Atlético Mineiro, Reinaldo, nos anos 1970 e que marcou época por sua comemoração erguendo os punhos cerrados em referência ao gesto dos Panteras Negras, grupo de combate ao racismo nos Estados unidos.
E a democracia corinthiana, na década de 1980, uma jogada de craques como Sócrates, Wladimir, Zé Maria, Casagrande, Biro-Biro e Zenon. Movimento político que ultrapassou as quatro linhas e enfrentou a ditadura que reinava no país do futebol.
Agora, o palco de resistência é a Copa do Mundo no Catar que tem levado uma diversidade de manifestações para o campo, a arquibancada e a rua. Desafiando a Fifa (Federação Internacional de Futebol) e o governo local, protestos políticos marcam um gol atrás do outro no maior torneio de futebol do mundo.
Durante a partida entre Uruguai e Portugal, na segunda-feira (28/11), o italiano Mário Ferri invadiu o gramado segurando a bandeira com as cores do arco-íris, símbolo da luta anti homofobia. O ativista vestia camiseta com a frase “Save Ukraine” (Salvem a Ucrânia). Nas costas estava escrito “Respect for iranian woman” (Respeito pelas mulheres iranianas).
Em 2014, na Copa realizada no Brasil, Ferri já alertava sobre a perseguição à comunidade LGBT.
Agora, denuncia também o machismo das leis do Irã que assassinou Mahsa Amini e escancara aos olhos do mundo a invasão russa à Ucrânia. Dentro e fora dos estádios, “torcedores têm driblado às autoridades, como os Marroquinos que nas ruas de Doha cantam hinos de solidariedade ao povo palestino e nas arquibancadas levam consigo inúmeras bandeiras do país invadido por Israel”, como afirma a matéria publicada no site da CSP-Conlutas.
Diferente do time canarinho, diversas seleções protestaram antes mesmo do campeonato começar. Inglaterra, País de Gales, Bélgica, Holanda, Suíça, Alemanha e Dinamarca planejavam usar a braçadeira “One Love”, com as cores do movimento LGBT. O manifesto foi proibido pela Fifa, que ameaçou punir os times. Em protesto ao autoritarismo da Federação Internacional de Futebol, jogadores da Alemanha posaram com as mãos tapando a boca. O manifesto da Dinamarca veio através do uniforme preto, em memória aos trabalhadores das construções dos estádios. Nos demais modelos o escudo da seleção foi “apagado”.
A seleção do Irã protestou contra a opressão do governo do seu país ao deixar de cantar o hino nacional. Já a Holanda vai leiloar todas as camisas utilizadas no torneio e o dinheiro arrecadado será destinado a trabalhadores estrangeiros no Catar. O time Inglês se ajoelhou antes do início da primeira partida em protesto contra o racismo, levando para campo a máxima do movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam). A resposta aos protestos vem em forma de repressão. Vale lembrar que no Catar homossexualidade é crime que pode levar até oito anos de prisão.
O silenciamento da seleção brasileira
Na contramão da histórica militância de craques do passado, a seleção comandada pela CBF chega ao Catar desabastecida de ideias consideradas subversivas pela Fifa.
Ironicamente, a provocação política de torcedores brasileiros presentes na arquibancada partiu de bolsonaristas que levaram para o estádio Lusail, no Catar, as bandeiras do ódio e da ignorância. As vítima da vez foi o artista Gilberto Gil, junto com a Lei Rouanet, que durante o jogo Brasil e Sérvia (24/11) foi xingado por apoiadores do presidente derrotado Jair Bolsonaro e defensores da ditadura militar.
A política está em tudo que é lugar de fala. E no esporte não é diferente. De chuteira em campo ou na arquibancada, é preciso denunciar toda opressão e injustiça social.
Assim como Adolph Hitler pretendia usar os Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, como propaganda do regime nazista, a Fifa transformou a abertura da Copa do Mundo no Catar em propaganda política na tentativa de mostrar uma falsa imagem do governo naquele país.
Seja lá no regime nazista ou na democracia corinthiana, bom saber que muitos atletas usaram suas figuras públicas para se manifestarem politicamente e fazer valer suas ideias a favor de importantes causas sociais.
Em memória à bravura de quem fez da fama esportiva atos de humanidades.
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