A Comissão Norte-rio-grandense de Folclore, nos 77 anos de sua história, mais uma vez se vê diante de uma encruzilhada.
Quando esperávamos ser recebidos com honra e celebração, deparamo-nos, em vez disso, com as portas cerradas do Casarão João Galvão. Ficamos ali — bolo na mão, a torta intacta, a jarra de suco de mangaba suando sob o calor implacável, a garrafa de café esquecida sob a luz escaldante dessa manhã.
O presidente da Comissão, Gutenberg Costa, ainda tentou: ligou para o coordenador da Fundação José Augusto. A mensagem foi visualizada — e silenciada. Nenhuma palavra, nenhum gesto.
Apenas o vazio cortante da indiferença.
Mas nós, que somos feitos de resistência e sonho, não nos curvamos. Atravessamos a rua — e com a coragem dos que sabem que cultura é vida — encontramos abrigo na Funcarte.
Os 77 anos da Comissão não passarão em branco. Não permitiremos que a memória de Cascudo e de tantos mestres da cultura popular seja sufocada pela negligência.
Nosso maior presente é este: seguimos em frente, mesmo sob o sol abrasador, mesmo com a mágoa na garganta, com a esperança acesa no peito.
Cascudo neles! E viva a cultura popular!
