Cena do filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin (1936)
É preciso combater os acidentes, as doenças e mortes no ambiente de trabalho
Dor intensa, incapacitação para o trabalho e até mesmo para atividades domésticas e de autocuidado, discriminação, depressão. Essas são algumas das consequências das LER/DORT (Lesões por Esforços Repetitivos e Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho), um dos principais problemas de saúde que afeta trabalhadoras e trabalhadores no Brasil e no mundo.
Neste dia 28 de fevereiro, dia mundial de combate às LER/DORT, é preciso denunciar as condições de trabalho, os acidentes, as doenças e mortes nos ambientes de trabalho, impostas pelo capitalismo que a cada ano faz mais vítimas.
Dados subnotificados
A subnotificação, o sucateamento do Ministério do Trabalho, da Fundacentro e a carência de estudos dificultam a obtenção de números atualizados da situação que com certeza são maiores do que os apresentados. A Pesquisa Nacional de Saúde, realizada pelo IBGE, mostrou que, em 2013, mais de 3,5 milhões de trabalhadores disseram ter diagnóstico de LER/DORT.
De acordo com o estudo “Saúde Brasil 2018”, do Ministério da Saúde, num período de 10 anos houve um aumento de 184% no número de registros de novos casos, passando de 3.212 casos, em 2007, para 9.122, em 2016.
O estudo identificou que as profissões mais atingidas pelo conjunto de sintomas são profissionais que atuam nos setores da indústria, comércio, alimentação, transporte e serviços domésticos/limpeza.
Dentre estas, os profissionais que mais se destacaram com número de casos foram os faxineiros, operadores de máquinas fixas, alimentadores de linhas de produção e cozinheiros. Ainda de acordo com o levantamento, esses problemas foram mais recorrentes entre as mulheres (51,7%) o que demonstra a forte incidência do machismo nos locais de trabalho.
A OIT (Organização Internacional do Trabalho) apontou que no Brasil o número de afastamentos causados por doenças osteomusculares e do tecido conjuntivo, inclusive LER/DORT, aumentou em 192%, de 16.211 para 31.167 casos entre 2020 a 2021.
Além disso, o número de benefícios acidentários concedidos pelo INSS aumentou de 40.117 em 2020 para 93.820 em 2021, um aumento de 234%. Em geral foram afastamentos previdenciários acidentários por lesões graves, como fraturas, amputações, ferimentos, traumatismos e luxações.
Superexploração e sofrimento
As LER/DORT são o desgaste do sistema musculoesquelético e decorrem da intensificação do trabalho, cujas atividades exigem a execução de movimentos repetitivos, associados muitas vezes a esforços físicos e manutenção de determinada postura por tempo prolongado.
No pós-pandemia, trabalhadores e trabalhadoras sofrem ainda mais com a exploração, hoje metas de produção abusivas e menos trabalhadores para executar as atividades.
Caracterizam-se pela ocorrência de vários sintomas, de aparecimento quase sempre em estágio avançado, que ocorrem geralmente nos membros superiores, tais como dor, sensação de peso, formigamento, fisgadas, fraqueza muscular e fadiga. Algumas das principais são as lesões no ombro e as inflamações em articulações, como nos punhos, cotovelos, região cervical e lombar e nos tecidos que cobrem os tendões.
Costumam evoluir de forma lenta para quadros crônicos e nem sempre são percebidas precocemente pelos trabalhadores, que retardam a procura por auxílio com receio de repercussões negativas na empresa. O quadro é ainda agravado por situações de discriminação e assédio moral, que causam sofrimento e transtornos mentais, com grande impacto nas vidas dos trabalhadores e de suas famílias.
A dor e o sofrimento têm suas causas: excesso e ritmo acelerado de trabalho, condições insalubres e inadequadas, pressão e assédio psicológico, redução de direitos e das leis de defesa da saúde do trabalhador. Ataques para garantir lucros a qualquer custo e que tem levado a uma precarização das condições de trabalho cada vez maior e resultado no adoecimento dos trabalhadores no Brasil e no mundo.
Desmonte dos direitos
Os governos também têm responsabilidade por esse quadro, ao impor dificuldades para o trabalhador se afastar e para o reconhecimento do nexo causal da doença, o sucateamento do INSS, a Reforma Trabalhista, Reforma da Previdência e a ampliação da lei das terceirizações, entre outras medidas, que representam ataques à saúde e segurança dos trabalhadores.
O integrante do Setorial de Saúde do Trabalhador da CSP-Conlutas, Jordano Carvalho, destaca que a situação vivida hoje em dia pelos trabalhadores (as) é uma verdadeira barbárie, com baixos salários, jornadas extenuantes, equipamentos e maquinários em péssimas condições e no trabalho home office tem sua vida invadida sem horário determinado de trabalho. “Um verdadeiro sofrimento”, ressaltou.
Por isso, o dirigente defende que as entidades sindicais tenham seus departamentos de saúde do trabalhador. “Os dirigentes e ativistas devem ser preparados para orientar os trabalhadores nos ambientes de trabalho, as Cipas devem ser classistas e combativas para defender a saúde e segurança no trabalho contra os ataques aos direitos e por melhorias e ser capazes de organizar as lutas”, afirmou.
Entretanto, para que de fato as condições de trabalho melhorem algumas medidas são necessárias e dependem do governo. É essencial que o governo Lula revogue as reformas Trabalhista e da Previdência, assim como a Lei da Terceirização.
Fonte: CSP-Conlutas, com informações do Ministério da Saúde, Fundacentro, Observatório de Saúde e Segurança do Trabalho e Renast
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