As feiras de livros e o cordel nas terras potiguares

por NANDO POETA // Ponto de Memória Estação do Cordel
Foto: cedida pelo autor

O cordel, patrimônio imaterial da cultura brasileira, um gênero que brotou por cima de pau e pedra alimentado por poetas que propagaram esta arte pelos quatro cantos desse imenso Brasil. As feiras livres, praças, rodoviárias, escolas foram e são palcos que fomentam a presença dessa literatura. Ingredientes para os roteiros de peças teatrais, do cinema, da música, dos processos educacionais.

O cordel é medonho, ele invade as universidades, as mesmas que resistem em tê-lo nos nas grades curriculares dos cursos (são poucas as faculdades que absorvem esse gênero em cursos universitários). Os cordéis apaixonam educadores que os abraçam e levam para seus alunos, mesmo não tendo passado pela formação de seus cursos.
O cordel sempre foi um guia nos processos de alfabetização, muitas crianças aprenderam a ler a partir das leituras dos livretos de cordéis.
As feiras de livros, as bienais realizadas pelo país afora têm convivido com a presença dos cordéis nessa seara literária. Será que o cordel de fato cumpre o seu papel de protagonista nestes espaços? Ou são tratados como um componente para enfeitar, embelezar, atrair o interesse dos participantes para estimularem a circular o ambiente?
Muitas escolas se organizam para levarem seus alunos até a essas feiras.  Será que os estudantes, uma boa parte ainda crianças, despertam só para o momento de folhearem os livros, ou precisam de espaços para o acolhimento? Justamente aí que os organizadores atuam para atraírem o interesse de poetas, na visão deles a presença do momento lúdico é imprescindível para acolherem inúmeras turmas das escolas que desembarcam nestas feiras.
A leitura é uma pedra preciosa que ajuda a gente fomentar o nosso senso crítico, desenvolvendo a nossa capacidade de discernimento. É algo que nos toca, abrindo caminhos que nos libertam de grilhões. Por pensar assim, acho que a leitura vai me ajudar a entender o que são as feiras de livros.
Para que serve uma feira de Livro? Apenas para fomentar a comercialização? Apenas para despachar os estoques de editoras, muitas delas em agonia?
Como membro do Ponto de Memória Estação do Cordel, já havíamos decidido que não tínhamos interesse em participar destas feiras, eventos que geralmente têm como foco privilegiar determinadas instituições. Ainda na gestão passada na Fundação José Augusto, em reunião, havíamos apresentado a necessidade dessas feiras terem outro desenho.
Na época, o movimento cordeliano apontou a importância do poder público, até pelo fato da verba majoritariamente vir dos cofres públicos, deveria influir com um olhar mais social, cultural e não meramente comercial. Mas, “tudo continua como dantes no quartel de Abrantes”.
Fui convencido por outro poeta parceiro da Estação do Cordel em adquirir um stand para expormos o nosso acervo de cordel. Fomos informados que seria R$ 1.500,00 cada espaço, que poderia ser dividido com outros expositores. Assim fizemos. Entramos com R$ 700,00 e o Sebo parceiro entrou com o restante, R$ 800,00. Quando chegamos no local, a UERN, uma universidade estadual, pública, o espaço reservado seria uma sala de aula no último corredor da feira. Constamos, logo, que o cordel havia ficado no final da rabeira. Enquanto que as “grandes editoras” haviam se situado nos corredores com maior visibilidade, no local de chegada das pessoas. A sinalização indicando os locais acabava no penúltimo corredor. Para o nosso, não havia colocado uma sinalização. Só os banners nas portas.
A prova de que o objetivo de muitos é a comercialização foi revelado no último dia da feira. Já na parte da manhã, muitos desarmaram o seu arsenal e se mandaram, ou seja, os dois primeiros dias de feira foram suficientes para alimentar os seus núcleos.
Essa é a realidade que vivenciamos na 17ª Feira do Livro de Mossoró, que aconteceu entre 2 e 5 deste mês de agosto na UERN.
Até quando vamos aceitar essa realidade?
A edição dessa feira em Natal vai ocorrer provavelmente em outubro. A Secretaria de Educação e Cultura e o Governo do Estado, principais financiadores desse evento, devem mudar o curso dessa história que se mantem há vários anos, desde governos anteriores.
O movimento cordeliano não pode mais aceitar esse tipo de comportamento, não podemos ser reduzidos a setores que alegram as feiras, que se contentam com migalhas. Vamos pedir respeito ao cordel!
Leia Cordel. Um caminho da leitura e da consciência crítica.

 


NANDO POETA é sociólogo e cordelista, membro do Ponto de Memória Estação do Cordel e da Academia Norte-rio-grandese da Literatura de Cordel – ANLIC-RN

 

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