Aos pais e às mães que são pais…

“É fácil demais ser pai biológico. Pai biológico não precisa ter alma. Um pai biológico se faz num momento. Mas há um pai que é um ser da eternidade: aquele cujo coração caminha por caminhos fora do seu corpo. Pulsa, secretamente, no corpo do seu filho (muito embora o filho não saiba disto).”

Esse trechinho da crônica “O Pai”, do educador Rubem Alves, nos ensina a entender esse verdadeiro ofício que se acumula a muitos outros.

Severino Barbosa, além de exercer a profissão de motorista na Prefeitura de Macau, acumulava o ofício de pai. E, também, o ilustre ofício de sapateiro. Uma convivência que puxa pela memória afetiva. Meu pai deu seu último suspiro na cama de um hospital sem ter conseguido superar a dependência do alcoolismo que assombrava sua vida e a família. um vício que causa 2,6 milhões de mortes todos os anos no mundo, 4,7% de todas as mortes no planeta, de acordo com os dados divulgados no mês de junho passado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Um fardo pesado que não conseguiu apagar da memória o lado bom da vida. Mas, antes tarde do que nunca, é preciso falar sobre a necessidade de incentivar o tratamento dessa doença que atende pela alcunha de alcoolismo. E cuidar para não permitir o apagamento do acolhimento a pessoas que precisam de ajuda.

Apesar da tempestade, meu pai está em minha memória afetiva e lembro com clareza de uma convivência que transmitia doçura e amor. Como me acalentar antes de dormir enquanto enrolava a camisa do seu pijama com os dedos numa brincadeira sem fim, mesmo sem a tradicional cantiga de ninar. Não raro, me presenteava com o carrinho de rolimã que eu festeja nas brincadeiras ao redor do coreto da praça bem ao lado de nossa casa no centro da cidade. Ou com a bicicleta que comprou à prestação com o aval do prefeito Joãozinho de Alípio, para quem dirigia o seu Maverick vermelho. Bem como as viagens na antiga Rural até o sítio da tia Julinha lá em Alto Alegre, município de Alto do Rodrigues, em períodos de férias.

Podemos entoar o refrão da canção junto com o compositor Paulinho da Viola: “Sem preconceito / Ou mania de passado / Sem querer ficar do lado / De quem não quer navegar / Faça como um velho marinheiro / Que durante o nevoeiro / Leva o barco devagar…”