“A UMES Natal, desde o início foi atrevida, libertária, amorosa, forte, responsável, de poesia e de luta”

Fotografia: Canindé Soares

A UMES Natal (União Metropolitana dos Estudantes Secundaristas) chega aos 40 anos de militância em plena atividade e entoando o grito de gerações que carregam as bandeiras históricas do movimento estudantil.

Um grito que cresce cada vez mais na garganta e, como arma pra luta, encheu o auditório da Reitoria do IFRN nesta quinta-feira (08/12) pra celebrar, relembrar e reafirmar uma história de lutas e conquistas. O sorriso estampado na face de todas, todos e todes era logo coberto pelo abraço encharcado de contentamento.
A UMES, estrela mais linda da noite, foi cantada e contada por vozes de várias gerações, movidas por coragem e sonhos revolucionários, capazes de enfurecer qualquer fascista. Chegamos e saímos com a firmeza de sempre. Agora, tonta de emoção. A vontade de se abraçar era inevitável. Uma felicidade rebelde sem fim. Afinal, não é todo dia que se junta toda essa gente doce e ardendo de tanta luta. “Hoje foi um dia maravilhoso, onde encontramos com companheiros valorosos que doaram parte de sua juventude para construir o movimento estudantil. Uma coisa ficou clara. A UMES tem que conhecer a sua história, não podemos tratar golpistas igualmente aos que construíram a luta”, declarou o fotógrafo e produtor cultural Lenilton Lima, um dos homenageados.
Desde seu 1º Congresso, em 1982, são quatro décadas organizando intensas jornadas de mobilizações estudantis. Uma teimosia da juventude que não cessa nunca. “A UMES Natal, desde o início foi atrevida, libertária, amorosa, forte, responsável, de poesia e de luta, e hoje tem o mesmo passo e o mesmo abraço”, lembra Claudio Damasceno, primeiro presidente da entidade. Para ele, “foi um momento histórico dos movimentos progressistas da sociedade natalense, digno de ser lembrado nos anais do Movimento Estudantil, pois, a celebração dos 40 anos da UMES reuniu líderes legítimos, chancelados à época pelas comunidades estudantis que representavam”. E complementa: “Fico muito feliz por perceber que o movimento frutificou, avançou e expandiu e hoje é um movimento forte, com excelentes quadros”.
Em meio a tantas homenagens a UMES Natal lançou uma revista feita pra comemorar e espalhar histórias de sonhos junto à luta em defesa da educação e da democracia. “Quando me vi naquele auditório lotado, muitas recordações vieram. Acredito que isso tenha acontecido com todas as pessoas que dedicaram parte de sua vida à construção de um mundo melhor”, afirma o professor Cherliton Saraiva, acrescentando que “o encontro teve grade importância por promover o reencontro de grandes ativistas do movimento estudantil, por resgatar a história de uma entidade a qual conquistou importantes bandeiras de lutas e por inspirar aquela grande parcela de novos ativistas presentes a continuar o legado que nós construímos”. Para ele, “nunca é demais lembrar que do movimento estudantil saíram, sai e sairão grandes dirigentes do movimento operário”.
Esses 40 anos da Umes Natal nos faz lembrar que a memória faz parte de um tempo que já atravessamos, mas continuamos a cantar. Outro homenageado pela UMES, o professor Almir Ribeiro avalia esse momento de celebração como “um ato muito além do político, não só pela importância da entidade à sociedade potiguar,  mas também pelo elo de gratidão erguidos pelos atuais gestores em homenagear o passado, seus bravos estudantes que lutaram, cada um na sua época, na defesa da educação de qualidade para todos”. Ele aponta que “nas falas desses militantes que narraram suas vivências, seguiam uma plateia atenta e emocionada que curtia com seus aplausos e gritos de guerra, muitos atemporais, A Umes somos nós, nossa força, nossa voz”.
Num dia de muitos afetos era flagrante a vontade de estar novamente juntos. O historiador Luciano Capistrano diz que receber o convite para esse encontro dos 40 anos da Umes foi um momento de muita emoção. “Rever amigos e militantes passa na cabeça aquelas cenas dos anos 80, quando passei a participar do movimento estudantil” Ele conta que era estudante da Escola Estadual Walter Duarte Pereira quando viveu aquelas mobilizações em defesa da educação pública. “Eu acho que teve um momento muito simbólico com os ex-presidentes da UMES da minha época. “Quando vejo Rogério Marques e Walter Júnior ali sentado na mesa, então, é de uma importância e um simbolismo muito grande, uma geração que para além do movimento estudantil se formou nas leituras de Paulo Freire e tantos outros da pedagogia. Eu revi o congresso de 85 lá no ginásio Sílvio Pedrosa no Atheneu, quando da reconstrução da UMES, um movimento muito significativo e emocionante mesmo”.
Pois é, continuamos militantes que teimam levar para auditórios e as ruas o tom dos protestos e das manifestações com suas bandeiras antirracista, contra a homofobia, por demarcação já, por nenhum direito a menos. Lutas que comungam com a defesa intransigente da educação pública de qualidade. Lições políticas que aprendemos desde os primeiros passos no movimento estudantil secundarista, que desde cumpre um papel fundamental na formação da juventude.
“Comemorar os 40 anos da reconstrução da UMES Natal foi algo bastante gratificante para mim por razões diversas. Reencontrar e me confraternizar com amigos, depois de muitos anos que não encontrava, constatar que o tempo não para e que o movimento permanece vivo, combativo e aglutinando nossas juventudes em defesa do ensino público e de qualidade. Reunir várias gerações do movimento estudantil, compartilhando vivências, inspirando e sendo inspirado pela atual geração. São tantas as sensações boas que tive, finalmente, só me resta uma coisa a dizer, obrigado, foi muito massa”, relata João Maria Fraga, militante estudantil na década de 1980.
Somos parte de uma geração que nunca se calou diante de autoritarismos que só acumulam retrocessos na história da humanidade. E que a rebeldia se faz tão necessária, seja no movimento estudantil, seja da classe trabalhadora ou de brincantes que igualmente cumprem uma tarefa cultural e política essencial. Segundo o artista visual e educador Henrique José, “a celebração dos 40 anos da UMES é um marco desta história que inicia nos anos 80 e tive a alegria de participar, um jovem militante que veio morar em Natal e aqui pôde contribuir no desenvolvimento das lutas de nosso povo, que continuam atuais e que depois de mais de 30 anos, ainda continuam nos corações e mentes de nossa juventude”. Ele a a soberania nacional é a maior bandeira que podemos resgatar hoje, quando vivemos uma conjuntura internacional de um império em decadência e o florescer de um mundo multipolar onde o Brasil precisa se credenciar para exercer sua vocação de polo aglutinador da América latina juntamente com nossos irmãos e vizinhos.
Liderança estudantil no Atheneu Norte-rio-grandense nos anos de chumbo da ditadura, hoje atuando como advogado, Renan Ribeiro de Araújo relata que saiu de Macau para estudar na capital potiguar. “Daí em diante minha vida foi ganhando espaço político-estudantil, novas vozes, outras palavras, esperança patriótica, sonhos democráticos e juvenis, ousadias revolucionárias”. Ele lembra que em  1979, junto com colegas de escola, “a Chapa ‘Hora de Lutar’, com Edson Severiano à frente, venceu a eleição e botou o Centro Cívico Celestino Pimentel na luta nacional em defesa do ensino público, por mais verbas para educação, pela reconstrução das entidades estudantis, Grêmios, UMES, APES, UBES, pela redemocratização do Brasil”. Em seguida, Renan presidiu a entidade estudantil na gestão ‘Disparada’. “Depois, vieram as bravas gestões de Gutenberg Oliveira e Rogério Marques. Sob direção operosa e generosidade libertária, a UMES foi refundada em agosto de 1982. Neste 2022 são 40 anos de avanços, recuos, muitas e memoráveis conquistas em prol dos estudantes”.
Vestido com camisa de Che Guevara, emoção apaixonada e algumas mechas da idade no cabelo, na tarde desta quinta-feira ele participou como um dos convidados do encontro comemorativo do quadragésimo aniversário da UMES. “Parabéns a direção do evento e aos estudantes secundaristas de Natal e região metropolitana. Como diz o trecho da canção ‘Me Gustan Los Estudiantes’, que ouvi muito Mercedes Sosa cantar:
Eu gosto dos estudantes
Porque são a levedura
Do pão que sairá do forno
Com todo o seu sabor
Para a boca do pobre,
Que come com amargura.
Caramba e samba a coisa,
Viva a literatura!”
A nossa saudação in memoriam à secundaristas que se encantaram depois de encantar com a bravura de suas militâncias: Heronilza Nascimento, Evaniel Cavalcanti, Wladimir Fonseca, Agemiro Diniz, Seu Florêncio, que compartilharam em vida histórias de resistência de um movimento que nunca fugiu da luta. E aos militantes de um tempo digno de ser lembrado [e que testemunharam mais um ato de rebeldia]: Airton Barbosa, Henrique José, Itamar Manso, Dantas Oliveira, Neide, Rosa, Luciano Capistrano, Cherliton Saraiva, Almir Ribeiro, Neto, João Maria Fraga, Renan Ribeiro, Cláudio Damasceno, Jorge, Carlos Bode, Walter Junior.
Além de inumeráveis companheiras e companheiros de tantas lutas: Aluizia Freire, Ana Paula Cadengue, Ofélia, Carlos, Enoque Vieira, Chaguinha, Tereza, Pedro, Mário Sérgio, Orminda, Dalila, Inah Vasconcelos, Djailson, Vildaci, Alcina Diniz, Brito, Camilo, Ceiça, Deuma, Divane, Eliane, Estranho, Eurico, Francineide, Genifran, Gil Xavier, Eduardo Vasconcelos, Hamath, Ivanilda, João Maria França, Julião, Leuça Duarte, Luiz Vieira, Fátima, Marcelo, Luiz Carlos, Lucimar Nazário, Nivaldo Bernardino, Noaldo, Olga Maria, Paulo, Francinaldo, Rino Dantas, Rita de Cássia, Sandra Gomes, Sheila, Sueldo Pereira, Tânia Medeiros, Vicente Cruz, Wanderlea Pinheiro, Aurir, Guiomar, Manacy, Soares, Aldemar.
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