Nas sutilezas de como funciona o racismo estrutural, você ouve:
“Você tá de babá hoje?” (Eu ouço isso enquanto cuido do meu neto, e de repente me vejo parada no tempo vivendo a mesma situação de racismo que experimentei com meus filhos onde eu era confundida com a babá deles). Minha resposta foi imediata e enfática: ” Não! Eu estou de avó!”
Ou então ouvir, ” vou precisar sair as tais horas!” e você pela entonação da voz ou pela falta de um por favor saber que ali está o racismo, a opressão, o concluir que negros, negras, e negres estão aqui para servir. O racismo é intrínseco e sutil nas situações cotidianas.
Nós pretas, pretos e pretes sabemos quando vocês estão sendo racistas, coisa que muitas vezes vocês nem se dão conta. O racismo estrutural que formou vocês nos formaram também, com a diferença que a gente sendo pretes era quem sofria o preconceito, era quem não se encaixava naquela estória bonitinha contada pela ótica do branco, estória eurocêntrica judaico-cristã.
O conceito de raça nasceu concomitante ao capitalismo na mesma época das grandes navegações, colonialismo e criação filosófica do “Homem universal” que era a visão eurocêntrica do homem ideal. A partir disso os povos e culturas que não se encaixasse nesses parâmetros eram denominados selvagens, sub-humanos, assim desumanizados e desapropriados de suas terras e culturas.
Esses conceitos para alguns continuam enraizados por exemplo em você acreditar que não existe raça, você acreditando que não há raça não vê o racismo, e assim toda a rede de opressão, toda a necropolítica que movimenta o sistema capitalista.
Minha mãe dizia que eu era melindrosa, neurótica porque eu via a opressão que me cercava na sociedade, e sofria dessa opressão, minha mãe era branca e nunca ia perceber em plenos anos 70 e 80 o quão sobreviventes eram eu e meu pai, mas agora a época é outra, temos mais acesso a verdadeira história humana que é uma história afrocentrada.
Em falar nisso vocês já exigiram na escola dos seus filhos que a Lei 10.639/03, que obriga as escolas de ensino fundamental e médio a ensinarem sobre História e cultura afro-brasileira que de fato pratiquem, e exerçam este ensino?!
Esse tempo é feito de descolonização, de atitudes e posturas antirracistas, estudem e mudem a forma de perceber o mundo e os seres humanos de todas as raças.
✏ IATAMYRA ROCHA FREIRE tem 51 anos, mulher negra cis, poeta natalense, estudante de bacharelado Interdisciplinar em Humanidades (UFRN). Faz parte do coletivo feminista literário Mulherio das Letras Zila Mamede e do NEAS (Núcleo de Estudos Auta de Souza).
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