“A memória é um espaço de disputa”, afirma o historiador Luciano Capistrano ao falar de uma memória que muitas vezes é silenciada de forma proposital.

Independência ou Morte, de Pedro Américo (1888), é o retrato romântico-oficial pintado pela historiografia tradicional que restringe a Independência do Brasil a um grito formal de Dom Pedro às margens do Ipiranga. Uma história que silencia vários gritos com a ponta da espada imperial, baionetas, canhões. Do apagamento das culturas indígenas à resistência em quilombos e aldeias, a memória guarda histórias que nos faz reconhecer o passado.
Neste 7 de setembro, o feriado do Dia da Independência foi marcado pelo Grito dos Excluídos que voltou às ruas junto com as centrais sindicais e os movimentos populares. Do outro lado do país, as manifestações de bolsonaristas repetiram o grito golpista aliado ao coice na soberania nacional ao implorarem por uma intervenção do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Em meio a cantigas de luta e resistência, a memória surge como lição diante de soldados que apresentam suas armas, cassetetes, capacetes reluzentes que lembram histórias escritas com sangue durante os anos de chumbo.
Se a história oficial se escreve no papel timbrado do poder, a resistência se inscreve soletrando o la-le-li-lo-luta ensinado pelo educador Paulo Freire, pelas lutas sindicais e populares que conquistaram direitos fundamentais, nas vozes femininas que desafiaram a lógica da exclusão, a exemplo de Goretti Gaivota (1962-2020), cordelista que misturava rima, denúncia e resistência feminista: “Verso não se cala, verso não se rende”.
Na opinião da professora Aluizia Freire, no dia sete de setembro não devemos exaltar a pátria com desfiles militares. “O verdadeiro ato de amor ao Brasil é ocupar as ruas em defesa da soberania nacional, dos direitos e da liberdade do nosso povo. É dia de protestar por um país livre e de gritar ‘sem anistia para golpistas’, de lutar contra a escala 6×1 para que nós, mulheres e homens, tenhamos tempo para lazer e diversão”, declara a historiadora.
Ela emenda ao defender justiça fiscal: “Que os ricos paguem impostos, assim como pagam as trabalhadoras e os trabalhadores. Chega de exploração. Um Brasil verdadeiramente independente só será possível quando houver soberania, igualdade e dignidade para quem constrói essa nação todos os dias”.