

por NILO EMERENCIANO // arquiteto e escritor
Grilo, Grilo Borratelas, Pedro Grilo. Sempre vestido de branco, salvo raras exceções. No princípio era apenas Grilo, um garoto pintor de anúncios e letreiros nas paredes das lojas de Natal. Seu diferencial? A personalidade forte, a voz afinada a engrolar tangos e boleros, às vezes de longas barbas, outras de bigode ou ainda de rosto raspado. A perfeição de suas pinturas era outro diferencial. Ainda menino passei um tempo enorme a vê-lo pintar um anúncio na parede da Antiga Torrefação e Moagem São Luís, de Luís Veiga, no bairro da Ribeira. Fascinante a habilidade com os pincéis, o uso das tintas. Os grãos, a xícara, a fumaça exalando da superfície do café, uma reprodução perfeita, e o pintor, do alto do andaime, cantando O Sole Mio.
Essas canções – além do tipo físico, branco e de boa estatura – me levaram a pensar, na época, que o artista era de origem estrangeira.
Grilo era um tipo marcante, todos sabem, e não há quem não tenha tido a sua atenção despertada pela sua presença. Alto, ereto, tranquilo, caminhava como quem desfilava a exibir a sua bela figura.