A lição que não se esquece

Foto: Igor Gomes


O PT nasceu das lutas, levando bandeiras, parando fábricas, ocupando ruas. Era o tempo das palavras de ordem rabiscadas na calada da noite, dos muros transformados em trincheiras, das colagens apressadas, dos cartazes pregados com lambe-lambe pelas esquinas da minha cidade Natal. Eu lembro. Lembro dos primeiros passos, da adrenalina pulsando enquanto denunciávamos a ditadura, enquanto chamávamos os trabalhadores à resistência.

Mas o tempo passou, e o nó agora aperta mais embaixo. O PT, que ainda se diz partido dos trabalhadores, não tolera nem mesmo a mais simples manifestação. Professor Bruno Lima, que esteve na delegação dos profissionais da educação em greve no Rio Grande do Norte, viu de perto essa contradição. Chegaram à inauguração da barragem de Oiticica para reivindicar o que é seu por direito, mas foram recebidos como inimigos. Cartazes e faixas confiscados, coletes arrancados, vozes caladas. Quem te viu, quem te vê, PT. Quem, há 40 anos, imaginaria que o partido das greves e ocupações se tornaria censor de manifestantes?

E os dirigentes sindicais que ainda sambam ao lado do PT, como fica o coração? Como fica a mente diante dessa postura autoritária? Será que não estremece a consciência de quem ainda acredita que esse partido joga do lado dos trabalhadores?

O palanque em Oiticica deu sua lição. Quem se acostumou a governar com os algozes da classe trabalhadora, agora desfila ao lado deles. Lá estava Garibaldi Alves, a múmia da oligarquia potiguar, brilhando junto à estrela desbotada. Lá de cima, eles sorriam. Lá de baixo, no chão quente do Seridó, os trabalhadores gritavam: “Estamos em greve! Não pise no piso, Fátima Bezerra!”

Será que Lula não lembra do fim dos anos 70, quando 100 mil metalúrgicos em greve lotaram um estádio em São Bernardo do Campo, desafiando o arrocho salarial e exigindo liberdade de expressão? E agora, ele do outro lado da trincheira, finge que não escuta. Será que Fátima Bezerra já esqueceu dos tempos em que, nas greves da educação, marchávamos lado a lado para pressionar governadores? Não foi essa a lição que aprendemos?

Hoje são exatamente 13 dias de greve. O número do PT. E foi nesse dia que os professores em luta foram dar sua aula – uma aula para aqueles que, um dia, nos ensinaram a lutar, mas agora desaprenderam. A história não perdoa: quem está do lado dos trabalhadores jamais esquece a lição. “Não se pode servir a dois senhores. Diga-me com quem andas, e eu te direi quem és”. E que fique claro: não somos nós os responsáveis pelo crescimento da direita. Quem tem alimentado essa serpente é quem escolheu governar com ela, quem abraçou o Centrão e se aliou aos inimigos históricos da classe trabalhadora.

A greve é um instrumento de luta, uma arma da nossa classe. Mas para vencer – para realmente vencer – é preciso independência. Independência de patrões, de governos, de conciliação. Porque não se transforma o mundo dentro do ninho da serpente. Sigamos em greve. Sigamos na luta.


Por Nando Poeta – membro do comando de greve

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