1964: veto de Lula à memória é negar toda a luta contra ditadura

 

Texto e foto: ROGÉRIO MARQUES / fotojornalista e documentarista

Ao determinar que seus ministros não promovam atos em memória aos 60 anos do golpe militar, o presidente Lula (PT) rasga páginas da história do país.

Ao contrário de tentar apagar a memória, faz-se necessário continuar denunciando, alto e bom som, o regime militar que torturou e matou mulheres e homens que não baixaram a cabeça para a ditadura. Apesar de ter apenas dois anos de idade em 1964, foram os livros e o movimento estudantil que me conscientizaram sobre esse desastre histórico que continua sendo um pesadelo na vida de muita gente. Lições que me ensinaram a lutar e a combater toda forma de opressão.
Assim como no verso da “Oração Latina” do cantador César Teixeira, “Com as bandeiras na rua / Ninguém pode nos calar”. Os cabelos brancos de inumeráveis vítimas da ditadura não vão ser pintados na tentativa de negar uma história que não pode ser apagada da memória. Porém, pedidos públicos de desculpas a vítimas da ditadura, entre outras ações planejadas pelo Ministério dos Direitos Humanos, foram vetados pelo governo Lula para evitar conflitos com os militares.
Lamentável, pelo seu caráter doloroso e infeliz, a tentativa de varrer para debaixo do tapete do Palácio da Alvorada a máquina da repressão que estraçalhou direitos humanos conquistados ao longo da história de lutas da classe trabalhadora.
“O presidente tem que entender que essa decisão sugere um tipo de tutela dos militares. Ele diz aos militares: ‘Não façam a ordem do dia e nós não denunciaremos vocês’. Ora, isso mantém a tutela militar sobre a República”, desembucha a historiadora Heloisa Starling, autora do livro “A Máquina do Golpe” que está sendo lançado neste mês pela editora Companhia das Letras. Na sua opinião, nós estamos perdendo um grande momento. “A República poderia se impor, fazendo uma boa discussão sobre o lugar das Forças Armadas, sobre a mudança do artigo 142 da Constituição, sobre o ensino nas instituições militares”.
A historiadora acrescenta ainda que “o passado tem uma função muito importante, que é fornecer repertório para que o presente possa construir projetos para o futuro”.
Se o presidente pretende defender a democracia – e acho que é isso que ele quer –, ele tem que olhar, sim, para 1964. (Heloisa Starling)

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