Olavo Lacerda Montenegro, o múltiplo desbravador

 

por CARLOS LUCAS // poeta, contista e articulista

 

A pessoa é para o que nasce. O dito cabe à perfeição na trajetória de vida do
agropecuarista, empreendedor e político potiguar, Olavo Lacerda Montenegro. Nascido na cidade de Macau (RN), a 25 de dezembro de 1920, filho do pecuarista e salineiro, Manoel Pessoa Montenegro (Manezinho), também natural de Macau, e de Maria Lacerda Montenegro, a qual empresta o nome a uma das principais avenidas de Nova Parnamirim (avenida Maria Lacerda Montenegro), localizada na zona Sul de Natal.
Olavo foi o varão da família. Nasceu, a bem dizer, em berço de ouro. A infância foi na
fazenda do pai, onde aprendeu as primeiras letras, vez que existia na propriedade um
grupo escolar. Os estudos avançaram no Colégio Diocesano de Mossoró, onde tomou
lições, inclusive de vida, por três anos. De Mossoró, veio para Natal estudar no Colégio
Marista. Concluídos os estudos na capital, o jovem Olavo parte para o Recife com o
intuito de cursar agronomia. Na Veneza brasileira, decepcionou-se com a faculdade que queria ensinar a ele o que já sabia na vida rural. Durante um São João, no Assú,
comunica ao pai que não voltará mais para o Recife. Resolve fixar residência no Vale e
assumir as duas fazendas doadas por Manezinho no nascimento.
Mas o destino quis que o adolescente fosse convocado para a Segunda Guerra. Retorna
para a capital para servir na Base Aérea de Natal. Na torre de comando da Base, assistia toda manhã os aviões decolarem para Dakar, no Senegal, e da África para a Europa, com o escopo de combater o nazifascismo. No período da tarde, o pracinha presenciava a chegada das aeronaves vindas de Miami, via Belém do Pará, onde abasteciam para prosseguir voo até Natal. Eram cerca de dois mil aviões diariamente na Base, entre chegadas e partidas. O certo é que Olavo não precisou voar para combater o Eixo do Mal. Nos dias de folga da caserna, costumava flanar pela Ribeira, com os amigos do Assú, pilotando um automóvel conversível presenteado por dona Maria Lacerda. Gostava de frequentar a Rampa, o cais da avenida Tavares de Lira e a Confeitaria Vesúvio.
Em um sábado na Base, quando se preparava para partir para a Ribeira, o oficial do dia cortou suas asas e escalou Olavo para lavar os banheiros, mesmo de folga. O episódio mudou a vida do jovem, porque após cumprir com a obrigação, deu carona a uma pessoa em Ponte Velha, e no domingo conheceu a fazenda Boa Esperança, que elegeria como a sua Pasárgada. A propriedade abrangia mil hectares na região que hoje é conhecida por Nova Parnamirim. A partir daí ele idealizou o crescimento da cidade de Natal, no rumo sul. Relata o seu filho, o agropecuarista, advogado e ex-deputado estadual e federal, Manoel Montenegro Neto, o Manuca, que o pai comprou terras da BR-101, entre o Atacadão e a Cidade Satélite, até o rio Potengi.
Não satisfeito, adquiriu também terras, onde hoje está instalado o Carrefour, até a
concessionária Natal Veículos. Visionário, convenceu o pai a comprar o Pium, incluindo a praia de Cotovelo, em uma área de 3,5 mil hectares. De posse da fazenda Boa Esperança, Olavo arregaçou as mangas e começou a plantar milho, mandioca, banana e coco verde, entre outras culturas. Um episódio que poucos sabem e muitos desconhecem é que o rio Pitimbu não existia. Foi Olavo quem criou o Pitimbu a enxadadas. Contratou uma equipe de técnicos e de trabalhadores para dar vida ao rio. Ainda na Boa Esperança, abriu uma vacaria com cerca de 400 cabeças de vaca. Tirava mil litros de leite por dia. Para a época, como também para os dias de hoje, um feito.
Com o seu espírito desbravador e empreendedor, foi de Olavo Montenegro o
planejamento da avenida Maria Lacerda, em homenagem à mãe, além das avenidas
Ayrton Senna e Abel Cabral, no extremo Sul de Natal. Ainda em vida, assistiu ao
surgimento da rodovia estadual Olavo Lacerda Montenegro, que liga Nova Parnamirim a locais movimentados como a Coophab, Parque das Árvores, Liberdade, Parque das Nações e Cajupiranga. Para regozijo da família, Nova Parnamirim tem hoje 93 mil habitantes e a maior renda per capita de Natal, desbancando, por exemplo, os bairros de Tirol e Petrópolis, além de ter um papel decisivo no crescimento do vizinho município de Parnamirim.

O político

Muito da paixão de Olavo Montenegro pela política deve ser tributada ao pai Manoel
Montenegro. Quando assumiu pela primeira vez a Prefeitura do Assú em 1930,
Manezinho se mudou da fazenda para a cidade para exercer sucessivos mandatos de chefe do executivo municipal por 13 anos. Importante ressaltar que Manoel Montenegro foi prefeito antes da Intentona Comunista de 1935, levante surgido para derrubar o governo do então presidente Getúlio Vargas; também no período do Estado Novo, foi ainda, eleito depois da ditadura de Vargas. Edgar Montenegro não foi eleito prefeito por Manezinho, foi eleito prefeito por Pedro Amorim para comandar os destinos do Assú, visto que Manezinho e Amorim eram ferrenhos adversários políticos. Manezinho se formou em Farmácia, no Rio de Janeiro, com dois irmãos que se formaram em Medicina. Eram amigos de Miguel Couto e montaram a primeira clínica médica em Copacabana.
Líder inconteste da região do Vale do Assú, atestam os íntimos que Olavo Montenegro foi um político correto, honesto, sincero e leal aos seus correligionários e eleitores. Talhado para a política, exerceu o mandato de deputado estadual em cinco legislaturas consecutivas: 1958, 1962, 1966, 1970 e 1974, sendo eleito nas primeiras legislaturas pelo Partido Social Democrata (PSD). O visionário Olavo Montenegro disputou, ainda, em 1982, o mandato de senador da República, pelo antigo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), sem obter êxito.
Quem o conheceu o cita como um orador primoroso. Reconhecidamente um político
combativo (ele foi um dos responsáveis pela formação da Cruzada da Esperança que
levou Aluizio Alves ao Governo do Rio Grande do Norte, em 1960), defendia
especialmente os interesses do Vale do Assú, importante região da terra potiguar, que amava obstinadamente.
Montenegro foi também sócio fundador da Associação Norte-rio-grandense de Criadores (Anorc) chegando a ser presidente daquela instituição, contribuindo consequentemente para a agropecuária do Estado, bem como um dos sócios fundadores da Rádio Princesa do Vale, uma instituição do seu Assú.
Um fato político importante que marcou a carreira de Olavo Montenegro foi a emancipação política de Carnaubais. O parlamentar foi o autor da Lei nº 2.927, aprovada pela Assembleia Legislativa e sancionada pelo governador Aluízio Alves, que emancipou Carnaubais política e administrativamente. Corriam as eleições municipais de 1963. Carnaubais pertencia a Assú. Olavo apoiava para o executivo açuense Maria Olímpia Neves de Oliveira (Maroquinha). Abertas as urnas, Maria Olímpia vence a disputa. Mas não demorou muito para o rompimento político entre os correligionários. Olavo entendia que a emancipação de Carnaubais seria melhor para o Assú, porém Maroquinha percebia o contrário, uma vez que a prefeita eleita não queria perder a receita gerada pela extração do sal pela firma Matarazzo nas salinas de Logradouro, hoje distrito de Porto do Mangue. Sacramentado o rompimento, Olavo usou o prestígio que tinha junto a Aluizio Alves e encaminhou o projeto de lei à Assembleia Legislativa a fim de emancipar Carnaubais. O projeto foi aprovado no dia 18 de setembro de 1963, marcando uma nova etapa na história carnaubense.

O cidadão

Quem conviveu com Olavo Montenegro assegura que era um homem dedicado à
família e aos amigos, sempre com gestos largos de solidariedade. Servir aos pares era um predicado. Inclua-se aí a assistência ao trabalhador da pecuária e da agricultura. Cidadão de hábitos simples, tratava a todos com cortesia. Conta o filho Fernando Montenegro que o pai não tinha vícios. Não bebia e não fumava. As paixões eram três: pecuária (vaca de leite), política e o Vale do Assú.
Olavo tinha o hábito de ler jornais, especialmente o noticiário político. Era adepto da culinária sertaneja. Apreciava leite, inhame, macaxeira, sopa e outros acepipes. Casou em 1947, com dona Neide Galiza Montenegro, na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Apresentação, antiga Catedral Metropolitana. Celebrou o casamento o então bispo de Natal, Dom Eugênio Sales. Do matrimônio, nasceram as filhas Iolanda Galiza Montenegro e Mary Montenegro Erthal e os filhos Fernando Antônio Galiza Montenegro, Manoel Montenegro Neto e Olavo Lacerda Montenegro Filho.
Olavo Montenegro faleceu de insuficiência cardíaca, no dia 31 de outubro de 1999, um domingo à tarde. Ao pressentir a morte, pediu ao filho Fernando para ser enterrado em uma cova rasa na terra abençoada e fértil do Assú, que tanto amava. Com o passar do tempo, a família providenciou um jazigo. Múltiplo e plural, deixou sua marca indelével na política e no empreendedorismo potiguar. Partiu para o plano superior com a alma tranquila dos sábios.
 

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