Uni-vos!

Tarsila do Amaral. Operários. 1933. Óleo sobre tela.

Num momento em que o mundo vive em pé de guerra, é fundamental entender o sentimento de solidariedade e urgente chamado que faz do título dessa matéria um manifesto.

Assim como o histórico Manifesto Comunista escrito por Karl Marx e Friedrich Engels no calor das lutas sociais na Europa, entre os anos de 1847 e 1848, que termina com o memorável chamamento: “Proletários de todos os países, uni-vos!”
NOS ÚLTIMOS TEMPOS o sistema capitalista movido por sua ganância trouxe à tona o chamado neoliberalismo com a tarefa de reforçar a luta dos ricos contra o povo trabalhador. Mais uma pegada econômica que lembra o começo da indústria quando “os operários ingleses dormiam debaixo da máquina e eram acordados de madrugada com o chicote do contramestre”, como observa Antonio Candido. O chamado “uni-vos” foi determinante para “o operário não ser mais chicoteado, depois para não trabalhar mais que doze horas, depois para não trabalhar mais que dez, oito; para a mulher grávida não ter que trabalhar, para os trabalhadores terem férias”.
Em meio a tantos acontecimentos históricos de contínuos ataques, encerramos 2023 com o espírito de que em 2024 é preciso “avançar de mão dada com quem vai no mesmo rumo”, como diz o poeta Thiago de Mello, lutando em legítima defesa do sonho que é esmagado pelas engrenagens do sistema capitalismo.
“Para conquistar um prato de sopa, não esperem pelo amanhã,
que em todo o mundo semelhantes se ajudem hoje mesmo”
O verso de Bertold Brecht reflete sobre a urgência da mobilização por toda parte, fazendo do nosso cartão de fim de ano o grito de socorro do povo palestino que é vítima da matança praticada por Israel. O mesmo ocorre com a guerra da Rússia contra a Ucrânia.
Na Argentina, o povo enfrenta as duras medidas neoliberais anunciadas pelo presidente ultradireitista Javier Milei, como privatizações, congelamento de salários no serviço público, arrocho salarial, liberação de preços de combustíveis e de planos de saúde, entre outros ataques. Enquanto isso, a disputa territorial entre Venezuela e Guiana pela região de Essequibo, território rico em recursos naturais, se transformou em mais um campo de batalha.
Entre inúmeras mobilizações, como a greve geral realizada no Reino Unido contra o arrocho salarial e o aumento do custo de vida, assim como na França contra a reforma da Previdência, e a greve de transportes na Alemanha, ainda, a longa greve dos trabalhadores das montadoras GM, Ford e Stellantis, nos EUA, bem como as manifestações do povo em Angola e as grandes e as lutas camponesas ocorridas no início do ano no Perú, nos despedimos de 2023 celebrando a disposição de luta da classe trabalhadora em todo o mundo.

No Brasil não podia ser diferente.

Apesar dos ataques golpistas no dia 8 de janeiro, logo após a posse de Lula, quando manifestantes bolsonaristas invadiram e destruíram os prédios dos três poderes, o povo brasileiro repudiou a tentativa de mais um golpe na história do Brasil. O problemas é que até o momento só foram condenados os “peixes pequenos”, deixando escapar os tubarões do golpismo como militares e forças de segurança. Assim como o ex-presidente Bolsonaro e sua gangue continuam livres, leves e soltos, apesar das provas de que planejaram os ataques golpistas e praticaram outros crimes, a exemplo do caso das joias sauditas embolsadas pelo ex-presidente e sua turma que também comandaram a política genocida na pandemia.
A PARTICIPAÇÃO de setores populares e oprimidos na subida da rampa do Planalto durante a posse de Lula representou uma forte esperança para o povo brasileiro que continua enfrentando um SUS sucateado, uma escola com professores que lutam em defesa do piso salarial da categoria e estudantes que não aceitam um Novo Ensino Médio que ataca a educação e por isso mesmo exigem a sua revogação. Políticas públicas que, por sinal, também enfrentam o costumeiro corte de verbas reforçadas pelo arcabouço fiscal. Pelo visto, a prioridade do governo continua sendo o pagamento da Dívida Pública.
Junte-se a essa engrenagem as privatizações e concessões que beneficiam banqueiros, o agronegócio e grandes empresas. Sem chance de revogação, as reformas da Previdência, Trabalhista e do Ensino Médio formam o grande bicho papão que engole direitos e ataca o povão.
NÃO PODÍAMOS DEIXAR DE FALAR DOS POVOS ORIGINÁRIOS e a mãe terra que continuam sendo alvos de sucessivos ataques e ameaças, principalmente do garimpo. A aprovação do Marco Temporal pelo Congresso Nacional (PL 14.701) é mais um ataque fatal contra os povos indígenas e seus territórios ancestrais. Tal Projeto de Lei estabelece que os povos originários só têm direito à terra que ocupavam na data da promulgação da Constituição de 1988. E para sacrificar ainda mais a mãe terra, o Senado aprovou o PL do Veneno, que libera a comercialização de agrotóxicos no país, muitos deles considerados cancerígenos.
Nessa toada dos sinos natalinos às vésperas do ano novo, uma árvore enfeitada de desafios instiga a badalada mobilização que vai de servidores públicos federais, estaduais e municipais às mais diversas categorias do setor privado. A Reforma Administrativa à vista, que ataca os serviços públicos e servidores, é mais uma cacetada a enfrentar em 2014.
A RESISTÊNCIA CONTRA OS DESPEJOS dá o tom dos protestos que prometem manter-se alto e bom som nas ocupações e ruas da cidade. É a luta por moradia que afeta grande parcela da população. Um grito que se esparrama por territórios indígenas, quilombolas e assentamentos que igualmente enfrentam a criminalização das lutas sociais. Por isso mesmo são vítimas das violências contra lideranças e ativistas.
Nesse cenário, o combate a toda forma de opressão é fundamental para combater a violência policial, principalmente nas favelas e periferias. Uma situação que pode se agravar com a proposta do governo federal de privatização dos presídios e a nova lei das Polícias.
AS MULHERES continuam na mira do feminicídio que só tem aumentado no Brasil. Somente no primeiro semestre foram 722 mulheres assassinadas, o que representa em média quatro assassinatos por dia, segundo levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Os registros de estupros também marcam alta no país. Foram 34 mil casos de estupro de meninas e mulheres no primeiro semestre deste ano, um crescimento de 14,9% em relação ao mesmo período do ano passado. Já o tema da descriminalização do aborto, apesar de ter entrado em debate no STF, continua sob ataque dos setores reacionários do Congresso Nacional.
A LGBTFOBIA, foi equiparada em decisão do STF ao crime de injúria racial, fruto de mobilizações crescentes dos setores oprimidos e representou um importante avanço para que pessoas LGBTs tenham respaldo jurídico diante dos crimes sofridos por sua orientação sexual ou gênero. Contudo, o Brasil segue sendo o país que mais mata pessoas LGBTs e, no Congresso, foram feitos vários ataques, como a aprovação em comissão da Câmara do projeto de lei que visa proibir o casamento entre pessoas homoafetivas. O PL está em trâmite na casa.
O FATO É QUE O POVO NEGRO, MULHERES E LGBTs continuam sofrendo com a opressão e violência que se agravam cada vez mais no capitalismo. E a falta de investimentos impede o avanço significativo de políticas públicas.
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