Fototeca Potiguar: “Espaço de luta da preservação da memória e da história do nosso povo”.

As fototecas surgem como importantes ferramentas para preservar a memória da imagem e conectar-se com o movimento fotográfico. Em terras potiguares, coletivos e profissionais ligados ao universo da fotografia estão botando a mão na massa e construindo esse instrumento de inclusão tão diverso.

Para tratar sobre essa questão, o Coletivo daFOTO! Realizou na sexta-feira (13/10) uma Live que reuniu militantes da fotografia de várias partes do Brasil. Durante a transmissão online, que contou com grande participação, rolou várias dúvidas que vão sendo esclarecidas passo a passo. Afinal, a fototeca é um espaço coletivo dedicado à fotografia [do documental à fotojornalismo] com a ideia de compartilhar história e informação do cotidiano, combustíveis fundamentais para entender o mundo.
Muitas experiências e saberes valorosos registraram a importância da fototeca. O fotógrafo Vlademir Alexandre, do Coletivo daFOTO!, afirma que essa importância das fototecas vem sendo pensada há bastante tempo, mas esse discurso ganhou uma força muito grande nos últimos meses com a ideia inicial apresentada à deputada estadual Divaneide Basílio (PT), que abraçou essa causa e protocolou um projeto de lei, na Assembleia Legislativa, para criar a Fototeca do Estado do Rio Grande do Norte (Fototeca Potiguar). O projeto já foi aprovado em várias comissões e aguarda votação no plenário. “A fototeca é um ponto de encontro dos acervos e de contato com quem criou e com quem cria, porque uma fototeca não trata apenas da fotografia e das imagens que foram feitas historicamente, mas ela trata de todo o acervo que é gerado cotidianamente”, explicou Vlademir. Complementou ainda que a fotografia digital tem uma imensa e constante geração de conteúdo, mas que muitas vezes se perde nessa forma de arquivamento. “Então a Fototeca vem para suprir essa lacuna, para tratar a história de forma ideal e respeitosa com quem produziu e quem produz ela”.
Para o fotógrafo e mestre em memória social Bruno Bou, um dos principais articuladores da Fototeca no Rio de Janeiro, a ideia é efetivar um projeto público e plural que interessa a profissionais envolvidos com essa questão da preservação. “É importante dizer que a fotografia tem essa natureza arquivística, principalmente o analógico, mas nesse segundo momento o digital também perdura essa natureza arquivística com novos dispositivos, novas ferramentas”, diz o fotógrafo ao alertar para a importância de articular com documentalistas, arquivistas, bibliotecários, museólogos, que constituem também parte desse processo. “Isso é muito importante porque a gente sabe como os negativos, como as impressões, as folhas de contato, elas merecem também apoio e atenção”.
Na opinião do fotógrafo e historiador Vitor Vogel, que atualmente coordena o Museu do Morro Palácio no MACquinho, em Niterói/RJ, é preciso ainda ouvir opiniões, pesquisar as metodologias de todos os acervos, pensar uma política pública efetiva, descentralizada, territorialmente dispersa nos diversos territórios das cidades. “O grau de acesso aos meios de preservação da memória difere brutalmente entre as classes sociais, ainda mais num país como o Brasil, que é um dos países mais desiguais do mundo, e que mesmo com essa desigualdade enorme e os preços muitas vezes proibitivos dos equipamentos fotográficos, inclusive os insumos, a gente consegue ter fotografia popular no país”. Ele acrescenta que é importante pensar não só o aspecto de fonte histórica para fotografia, mas também pensar a partir das construções acadêmicas, pensar fotografia também como documento, como expressão artística. Ao mesmo tempo, pensar em editais de galeria. “Agora a gente tem que estar, enfim, passando a fase mais de pensar o projeto político, editorial, curatorial, pedagógico da fototeca, formação de público, formação de acervo e dar passos mais à frente”.
A fotógrafa popular Monara Barreto, responsável pelo acervo fotográfico do programa de documentação e pesquisa Imagens do Povo, avalia que a proposta é ampliar a rede, instruir a galera que está chegando, a galera mais antiga. “Existe luz ainda na caminhada, é possível”. Ela reforça a ideia de pensar não só a fotografia como memória, história, mas também como documento informacional. “Até porque a fotografia passa por todos esses processamentos técnicos de caráter documental. Desde o momento que a gente faz o nosso clique, a edição, a seleção, o descarte, divulga isso nas redes sociais, a fotografia já tem um caráter documental. Ela vem como um lugar, não apenas para provar algo, mas também para integrar e caracterizar algum ambiente, algum espaço, alguma história daquele lugar”.
Para Monara, falar sobre fotografia popular não é pensar apenas na fotografia desses espaços periféricos. “Na verdade, eu falo desse lugar porque é do lugar de onde eu vim, do lugar onde eu trabalho”, diz incluindo nesse acervo as comunidades ribeirinhas, as comunidades indígenas, quilombolas, as faveladas, os suburbanos. E lembrou outras falas, reafirmando a importância da circulação dessas informações e ampliação das redes a partir desses encontros e debates para “não deixar morrer essa ideia tão viva que, ultimamente, a gente anda produzindo tanto”.
A produtora e fotógrafa Mônica Maia, presidenta da Rede de Produtores Culturais da Fotografia no Brasil, declarou todo apoio aos projetos das fototecas no Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte. “Contem com a rede para qualquer articulação”. Em seguida, Mônica Zaratini, diretora regional da Rede de Fotografia, mandou um recado sobre a importância dessa união em torno da criação de fototecas. “Nós, como fotógrafos, reivindicamos que o nosso acervo, a nossa memória esteja resguardada, esteja preservada, então é muito importante que saia mesmo do papel, que a lei torne-se uma realidade e a gente venha a ter salvaguardado todos os nossos registros, os nossos cliques pelas ruas desse país, dos movimentos sociais, das atividades culturais, das festas populares, da política, enfim, tudo o que interessa para guardar a história da nossa cidade, a história do nosso estado, a história do nosso país”.
O fotógrafo Henrique José, mediador do bate-papo, agradeceu aos coletivos, fotógrafas  e fotógrafos que participaram da live. “Que a gente possa, de repente, dar uma inspiração pra que outras fototecas surjam, que esse movimento crie força e que a gente possa realmente ser um espaço de luta da preservação da memória e da história do nosso povo”.
Antes de encerrar o papo fotográfico, Vlademir Alexandre agradeceu às mais de 200 pessoas que assinaram o manifesto pela aprovação e fundação da Fototeca Potiguar. “É muito bom estar dialogando com o Rio de Janeiro e ver que a gente se afina em muitos pontos e que isso fortalece muito o cenário da fotografia nacional. Que esse movimento sirva de incentivo a outros estados, porque, afinal de contas, não é simplesmente a questão do acervo fotográfico, mas da preocupação com a história dos lugares e das pessoas”. Ele informou que está sendo encaminhada uma audiência pública na Assembleia Legislativa como mais um espaço de construção, diálogo e afirmação dessa luta.

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