por SOCORRO SILVA // Professora do IFRN e pesquisadora do Negedi
Recuperar a trajetória das mulheres negras na sociedade brasileira, nos remete a entender o papel protagonista que as mulheres negras ocuparam e ocupam em nossa história, não só no sentido de resgatar sua efetiva participação e contribuição na história política do país, mas ainda no resgate necessário das mulheres como sujeitos identitários e políticos deste processo, através de suas lutas e conquistas (Carneiro, 2019).
Recuperar a história e a trajetória de mulheres negras na sociedade, destacando seu protagonismo e contribuição na história política, social e econômica do país é a centralidade do evento denominado “Julho das Pretas”. Evento que propõe uma agenda de incidência política e coletiva auto-organizada, planejada e idealizada por diversas entidades e organizações de mulheres negras no Brasil e na América Latina. Haja visto que em 1992, em Santo Domingo na República Dominicana, ocorreu o 1ª Encontro Latino-Americano e Caribenho de Mulheres Negras que debateu sobre a importância de construir novas narrativas e propostas que evidenciassem o protagonismo político das mulheres negras nas diversas áreas. E a necessidade de construção de uma agenda politica com reinvindicações para combater a desigualdade social e estrutural provocada pelo racismo e sexismo na sociedade, constituindo-se a partir daí o Dia Internacional das Mulher Negra Latino- Americana e Caribenha.
A filósofa Sueli Carneiro afirma que “Esse novo olhar feminista e antirracista, ao integrar em si tanto as tradições de luta do movimento negro como a tradição de luta do movimento de mulheres, afirmam essa nova identidade política, decorrente da condição específica do ser mulher negra”. Onde se faz necessário pautar de forma sistemática e frequente as discriminações e violações de direitos que vivenciam as mulheres negras nas suas múltiplas opressões, exclusão e marginalização do seu potencial político e social, que nega sua identidade e subjetividade e invisibiliza seu protagonismo.
E neste sentido perguntamos, por que ainda precisamos de eventos como o Julho das Pretas?