Memórias e histórias quase esquecidas

por GILMAR BERNARDO
Foto: Canindé Soares

Puxe uma cadeira e sente-se à mesa, pois as madames da antiga boemia natalense estão vindo aí. É o que nos garante Gutenberg Costa, que aproveitou bem a riqueza de seu acervo – a Biblioteca Dona Maria Estela – para nos brindar com “Cabarés na Cidade de Natal”, sua pesquisa mais recente. 

Figuram neste livro, por exemplo, nomes popularíssimos, como o de Maria Boa, Francisquinha e Rita Loura, musas de um passado verdadeiramente mítico, quando Natal despertou de sua inocência provinciana para avançar à sombra da Segunda Guerra. Daí então as adaptações e com elas o amadurecimento de sua população, amadurecimento moldado, sobretudo, pelos norte-americanos que aqui fincaram bandeira, marcando presença nos principais pontos alegres da região. A famigerada guerra passou, mas os tais pontos alegres permaneceram, afinal, também somos feitos de carne. 
A nova obra de Gutenberg, convém lembrar, não apenas seduz pela temática como a inaugura na oficialidade de nossas memórias, num trabalho acima de tudo ético; avinhado de lirismo e temperado com boas doses do humor, na arte de quem testemunhou a ascensão, glória e decadência dessas personagens. Quantos segredos, quantos mistérios! Eis aí a importância do pesquisador, eis aí o lugar de Gutenberg Costa.
Depois de ‘Personagens Populares de Natal’ (1999), ‘Antigos Carnavais de Natal’ (2016) e ‘Breviário de Bares de Natal’ (2019), chegou a hora de iluminar nossas estantes com uma parcela desse universo de luzes vermelhas. Universo ainda condenado – por que não dizer temido? – e pouco explorado, principalmente por quem se diz pesquisador. 
Digo mais, se me cabe a ousadia: “Cabarés na Cidade de Natal” conta, em suas primeiras páginas, com a apresentação do jornalista e escritor Vicente Serejo. Nas orelhas do livro, o toque feminino das amigas do autor – Jânia Souza e Graziela Grilo. Capa com fotografia de Canindé Soares, da atriz Anna Celina. A arte e diagramação são do designer José Áglio. Muito em breve, aguardem. 
Não, não joguemos pedras nas Madalenas. Usemos nossas mãos e olhos para as coisas boas da vida. A leitura deste livro, por exemplo.

Gilmar Bernardo, graduando em Letras (UFRN) e um dos revisores do livro.

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