“Rolou uns b.os aqui onde moro devido as chuvas”

Reprodução do vídeo feito por moradora da rua Camaragibe, no bairro de Mãe Luiza, em Natal

A produtora cultural Jane Gomes mora no bairro de Mãe Luiza desde que nasceu, há vinte e seis anos, e cresceu sentindo na pele a dura realidade de tantas vítimas de calamidades públicas consequentes da desigualdade social. Uma situação que diz muito sobre o descaso do poder público e os desafios do povo para enfrentar tantos problemas sociais.

Às dezessete horas e trinta minutos do sábado passado recebemos uma mensagem da artista visual informando que não iria participar da nossa reunião virtual. “Rolou uns b.os aqui onde moro devido as chuvas, daí tô tendo que arrumar as coisas por aqui”, afirmou Jane expondo a dor da periferia em meio às mudanças climáticas.
Daí, vale questionar qual é o perfil das pessoas que tem suas casas alagadas e até mesmo afundadas em épocas de chuvas. Quais os fatores que fazem de comunidades como Mãe Luiza, na capital potiguar, áreas de risco num cenário que virou rotina?
Eventos climáticos extremos serão cada vez mais extremos, aponta o climatologista peruano José Marengo — coordenador geral do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). Ele está entre os mil cientistas de clima mais influentes do planeta segundo classificação da Agência Reuters, que selecionou apenas cinco cientistas no Brasil e sete na América do Sul. “Extremos de chuva em áreas urbanas significam enxurradas, significam mortos. Precisamos começar a repensar o planejamento urbano das cidades”, alerta o pesquisador, que é um dos responsáveis pelos relatórios sobre o Brasil do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas.
Na capital potiguar, as chuvas intensas do fim de semana deixaram ruas alagadas, invadiu casas e abriu crateras num rastro de desastres corriqueiros. “É muito descaso”, essa foi a ordem do dia mais comentada por todos os cantos da “cidade do sol” repleta de “palafitas, trapiches, farrapos, filhos da mesma agonia”, como diz os versos da banda Paralamas.
As famílias que vivem nas ocupações urbanas só aumentam o sufoco e acumulam perdas a cada alagamento devido à falta de moradia digna. No vídeo a seguir, a moradora da Ocupação Emmanuel Bezerra relata a dramática situação e reforça a necessidade de doações.

» Segue a lista de itens prioritários para as famílias:
» Colchões
» Eletrodomésticos
» Roupas
» Alimentos
» Itens de higiene
Pode doar também qualquer valor através do pix 84 987072030, em nome de Matheus Felipe de Araujo Querino, que representa o MLB/RN (Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas.
Enquanto alerta sobre riscos de alagamentos em todas as regiões, a “Defesa Civil de Natal” distribui suas tradicionais carimbadas pelas casas ameaçadas de desabamento: “INTERDITADA”.
Nem raios nem trovões que acompanham as fortes chuvas se igualam ao tamanho dos perigos ocassionados pela situação de vulnerabilidade que afeta grande parte da população. “O que mata as pessoas não é a chuva, é o desastre natural consequência de uma chuva intensa para as populações que vivem em áreas vulneráveis. É isso que temos que pensar. Se vai chover mais, temos que começar a reduzir a vulnerabilidade nas áreas periféricas”.
Segundo a Semdes (Secretaria Municipal de Segurança Pública e Defesa Social) as áreas mais vulneráves atualmente são as de encosta, como Mãe Luiza, Jacó e Passo da Pátria, além de transbordamento em lagoas de captação, como Santarém, Soledade, Jardim Progresso, Panatis, São Conrado e Preá. Informa ainda que a Defesa Civil mantém uma equipe de plantão 24 horas e pode ser acionada através do número 190.
⇓ Confira o vídeo feito por moradora da rua Camaragibe, no bairro de Mãe Luiza

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