Lucas Der Leyweer: “Na adolescência sofri muito pela minha cor”

Foto: Acervo pessoal

Lucas Der Leyweer, 22 anos, nasceu em Cacoal no estado de Rondônia. No auge da pandemia, o jovem preto e homossexual decidiu transformar suas dores em poemas. No mesmo ano (2021) foram dois livros que traduzem essa sua vivência em meio a conflitos sociais dominantes como o racismo e a homofobia.

Lucas conta ao Coletivo Foque que leu um livro inteirinho pela primeira vez aos 10 anos. “Eu li um livrinho de contos, que contava sobre lendas urbanas, não me lembro do título, mas eu sempre pegava o mesmo livro quando eu ia na biblioteca da escola Paulo Freire, no município de Cacoal”.
Ele explica que foi atraído pelos personagens e as histórias. “Me senti encantado, fui fisgado pelo livro. Depois disso, a minha maneira de ver a literatura mudou a minha perspectiva de mundo. Ler amplia tudo”.
Para ele o escritor surge a partir das coisas do dia-a-dia. “Coisas simples, mas que ninguém presta atenção, como borboletas, um trem passando, o mar, um jardim florido, o silêncio. Boa parte da minha escrita é quase uma forma de terapia, muitos sentimentos são extravasados no papel e alguns outros da necessidade de contar histórias”.
Suas referências vão de Clarice Lispector, Carolina Maria de Jesus à artistas mais contemporâneos como Lana Del Rey.
O escritor que atualmente mora na capital potiguar diz que “Pequenos poemas para grandes corações” é uma coleção de poemas, em sua maioria de cunho pessoal e amoroso. Quase como um diário.
Escrevo, pois assim mantenho meu cérebro ocupado por um momento.
O porquê de tantos pensamentos, não sei.
Não posso controlá-los. São tempos difíceis e dias difíceis, sei disso.
Escrever é uma forma de desabafar, de conversar comigo mesmo.
Escrevo palavras sinceras, Elas descrevem o que sinto.
Não sei se no fundo consigo alterar algo, o físico ou um pensamento.
Talvez nada mude, então simplesmente desabafo comigo.
São meia noite e onze, o céu está deslumbrante.
Estou deitado debaixo das únicas estrelas que restaram e a lua, não a vejo.
Talvez esta noite ela não venha.
E na meia noite, vem lembranças do passado.
Sinto falta do meu amigo, eu e ele saíamos para beber em dias entediantes, íamos ao Subway nos finais de semanas e também no Rockbar.
Sinto falta da minha mãe de criação, tenho medo de perdê-la e de não estar perto para vê-la uma última vez.
Agora estou longe dela, do outro lado do país.
Sinto falta de ir à praia com meu amor, sim amor.
Sinto falta de tudo isso.
Sinto falta, meu amor.
Escrevo, pois, assim mantenho minha mente ocupada por um momento.
“Vivências de peles negras”, seu segundo livro de poesia, fala sobre a sua vivência e a do povo preto brasileiro. “Na adolescência sofri muito pela minha cor, há xingamentos que nunca irei me esquecer, via casos na TV e isso acontecia muito, mais muito mesmo. Teve o caso Gabriel, que aconteceu aqui no RN, isso mexeu muito comigo. Então resolvi escrever este livro para externar a minha revolta e indignação”.
Vivendo debaixo dos trilhos,
Seja cuidadoso ao sair por aí.
Querido, esta cidade é maior do que o seu medo.
Vivências de peles negras, uma vida de incertezas.
Como um cão, fareje o caminho de casa, seja esperto,
Olhe para o lado, olhe um pouco.
Você não sabe o que pode encontrar.
Vivências de peles negras, uma vida de incertezas.
Eles têm um mar de mentiras.
Há sangue em suas verdades confusas, armas em seus corações,
Uma rosa para o alto.
Que confusão, agora as ondas não sabem para onde ir.
O tempo está ficando sem tempo.
“Resolvi fazer da minha vida uma obra de arte”, afirma Lucas Der Leyweer, inspirado pelo gesto poético de Mahatma Gandhi: “A arte da vida consiste em fazer da vida uma obra de arte”

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