Prefeito Djalma Maranhão em uma roda de coco – Fotografia: Reprodução/autor desconhecido

Djalma Maranhão (1915- 1971) foi prefeito de Natal de outubro de 1960 a abril de 1964. Sob a sua administração progressista as artes e a cultura popular da cidade receberam pela primeira vez o apoio e incentivos oficiais tão ausentes nos dias de hoje.

Djalma construiu a Estação Rodoviária da Ribeira, o Palácio dos Esportes na Praça Pedro Velho, pavimentou dezenas de ruas, implantou iluminação pública moderna, mas, principalmente, inaugurou uma forma diferente e inovadora de administrar uma cidade.
Fui testemunha disso, apesar de muito garoto. A galera da rua – os adultos – organizava um São João com direito a quadrilhas e comidinhas. O prefeito marcava presença, mesmo em uma festa simples como essa. Lembro a sua figura. Espadaúdo, chapéu na cabeça. Acho que por isso os desafetos o chamavam de prefeito do subúrbio. Fui usuário das quadras esportivas que ele fez construir nos bairros, junto com parquinhos, bibliotecas e telefones públicos. Sua ligação com as artes populares levou-o a criar o conceito de Praças de Cultura, que culminou com a construção da Galeria do Povo e a Concha Acústica da Praça André de Albuquerque, no centro da cidade. A Concha Acústica era composta de biblioteca (sempre bibliotecas) de um lado, lanchonete no outro, e, na parte superior, local para apresentações diversas. Vi, por exemplo, Cauby Peixoto e Ângela Maria cantarem nesse palco. Anos depois vi a dupla mais uma vez cantando em praça pública em Belo Horizonte e não pude deixar de me emocionar.
Talvez sua iniciativa mais conhecida tenha sido a campanha De Pé no Chão Também se Aprende a Ler, inspirada, claro, no método Paulo Freire. Investindo na promoção social através da educação, a campanha visava erradicar o analfabetismo, abrigando alunos que não precisavam adquirir farda ou sapatos adequados. Consequência direta do sucesso da empreitada, criou-se, dois anos depois, o Curso de Aprendizes Profissionais, ou De Pé no Chão Também se Aprende uma Profissão como passou a ser chamado.  Ali se ministrava aulas de corte e costura, artesanato, sapataria, marcenaria, criando uma pré-profissionalização gratuita para os adultos carentes da periferia.
Sob sua administração as manifestações artístico-culturais da cidade, desde os grupos de dança e folguedos, como bumba- meu- boi, chegança, marujada, fandango, tinham incentivo, apoio e palco permanente. Na minha memória registrei apresentações em palanques inclusive no centro da cidade. O grupo Araruna talvez tenha sido o que mais me impressionou. O Mateus do boi me deu medo com a cara pintada de preto.
O golpe de 1964 acabou com tudo isso. Um prefeito legitimamente eleito (o primeiro da história da cidade), com maciço apoio popular, foi deposto, preso, enviado ao Recife e depois para a ilha – presídio de Fernando de Noronha. Exilado em Montevidéu, no Uruguai, Djalma Maranhão morreu longe de sua cidade, dizem alguns que de saudades da sua terra.
Porque lembro tudo isso agora? É que entristece ver a cidade que deveria ser símbolo do Natal de Jesus ter em seus festejos enormes árvores estilizadas, palcos para artistas variados cantando suas sofrências, queima de fogos de artifício, barracas comercializando pastéis, crepes, churros, alusões a Papai Noel vestido para o rigoroso inverno europeu, luzes, enfim, tudo, menos nossos autos, brincantes, pastoris, boi-de-reis, congos, cocos de roda, maxixe, lapinhas e marujadas.
Onde ficaram nossos artistas que poderiam ser usados desde a decoração das ruas até a própria elaboração das festividades? Onde a oportunidade para os artesãos? Imagino uma apresentação teatral contando com os grupos de teatro de rua, com cenários elaborados pelos nossos talentosos mestres da arte popular, burros, ovelhas e bois de papel machê, bonecos ou coisa parecida. O cortejo percorrendo as ruas do Centro Histórico. Concluindo na área em frente à Catedral. Com espaço para as Pastorinhas saudando a estrela de Belém. O Boi, Mateus e Catirina ao lado da Sagrada Família. Os Reis Magos desembarcando da Nau Catarineta anunciados pelo gajeiro Curió, do mestre Newton Navarro. Violeiros cantando o nascimento do nosso Irmão Maior, Jesus. O Forte dos Reis Magos envolvido em luzes e fogos de artificio. Talento não falta. Criatividade também não.
Vamos lá? Quem sabe o ano que vem, com boas novas no ar, todos encorajados pelas mudanças, espero, já ocorridas. E muitas outras coisas novas esperando pela nossa ação. Vamos acreditar. São meus votos sinceros.

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