Fotografia: Júlio César Almeida
80 tiros te lembram que existe pele alva e pele-alvo
Quem disparou usava farda
Quem te acusou nem lá num tava
Porque um corpo preto morto é tipo os hit das parada:
Todo mundo vê, mas essa porra não diz nada […]
Trechos da música Ismália, do rapper Emicida, ajudam a tirar o véu que encobre a violência revelada pela pesquisa “Pele-alvo: a cor da violência policial”, realizada pela Rede de Observatórios da Segurança divulgada na terça-feira [14/12].
O estudo, feito em sete estados brasileiros, mostra que uma pessoa negra é morta em ações policiais a cada quatro horas. Rio de Janeiro é o estado com o maior número de pessoas negras mortas pelos agentes de segurança. “Falamos aqui de um racismo declarado que se pratica com a anuência de autoridades e a naturalização de boa parte da sociedade. Diferentemente das políticas governamentais de saúde, educação, cultura e meio ambiente, cuja reprodução do racismo estrutural se sustenta em desequilíbrios, injustiças, omissões e às vezes em sutilezas, as políticas de segurança racistas são explícitas e constroem o imaginário da negritude associada à tendência da criminalidade. Pessoas negras são elementos suspeitos. São inimigos racialmente determinados e que, em um imaginário construído com argumentações racistas, precisam ser eliminados para que supostamente se garanta a manutenção da sociedade”.
O relatório da Rede de Observatórios da Segurança revela o impacto do racismo policial nos estados da Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo. “São dados registrados em 2020 e que mostram que mesmo em um contexto de crise sanitária mundial o racismo não dá trégua e, pelo contrário, mata ainda mais, tanto por vírus como por tiro. As crianças João Pedro, Juan Ferreira, Emily e Rebecca são alguns desses ‘inimigos’ abatidos pelas forças do Estado”.
Em todos os sete estados acompanhados pela Rede a presença de negros entre os mortos pela polícia é bem maior do que na composição populacional. A tabela mostra a dimensão da violência policial contra a população negra. “Cada número apresentado é uma história, uma vida que se soma a esse montante de mortes que as polícias brasileiras produzem anualmente”.
As capitais do Rio de Janeiro, de São Paulo e da Bahia apresentam os maiores números de mortes registradas em 2020, em termos de cor/raça – respectivamente 415, 317 e 203 mortes em cada uma. “Em Fortaleza, Recife e Salvador, todos os mortos pela polícia em 2020 eram pessoas negras”.
Segundo informação racial nos sete estados da Rede, entre as 2.653 mortes praticadas pela polícia, 82,7% delas eram pessoas negras.
»Confira o relatório baseado em pesquisa rigorosa, monitoramento diário e diálogo com a sociedade civil sobre violência e segurança pública.

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