Tentativa de golpe completa 2 anos

Foto: Taian Marques / Coletivo Foque

Centrais sindicais brasileiras divulgam Nota em apoio à democracia e repudiam o ato golpista de 8 de janeiro de 2023.


Nota da CSP-Conlutas

Há dois anos, as cenas do ataque golpista à praça dos Três Poderes, em Brasília, chamaram a atenção do mundo. O 8/1 já havia entrado para a história como uma violência contra as liberdades democráticas, mas, hoje, há muito mais certezas sobre a gravidade daquele acontecimento.

No marco dos 60 anos do golpe militar no Brasil, neste 2024, as investigações revelaram mais que o conhecimento do ex-presidente Jair Bolsonaro sobre a tentativa de golpe, está selada a sua articulação junto a militares, políticos da extrema direita e empresários.

Até mesmo um plano para o assassinato de Lula e do vice-presidente, Geraldo Alckmin, além do ministro do STF (Superior Tribunal Federal), Alexandre Moraes, foi descoberto, enterrando qualquer hipótese do 8/1 ser considerado apenas como um “quebra, quebra”.

Ainda que tenhamos visto condenações de centenas de participantes do movimento golpista, incluindo o general Braga Neto, primeiro de sua patente a ser preso na história da República, diversos processos de anistia avançam lentamente no Congresso.

O custo da governabilidade

Nos últimos dois anos, os cartazes com a escrita “Sem Anistia” foram vistos inúmeras vezes em protestos populares, mas o governo Lula parece encarar este pedido como uma escolha difícil, colocando-se de fato em uma encruzilhada.

O ato oficial promovido pelo Planato para marcar o 8/1 inclui uma série de ações protocolares e distantes dos trabalhadores e suas necessidades, mas uma em específico se destaca: o abraço coletivo e simbólico aos prédios vandalizados na Praça dos Três Poderes.

O que parece inofensivo revela a face mais obscura do governo Lula, sua constante política de conciliação. A impunidade aos militares da ditadura tenta se renovar neste novo episódio de autoritarismo.

Parlamentares que apoiam o perdão aos golpistas, sob o toma lá, dá cá do governo, viram aliados em outras votações de interesse de Lula e sua equipe. Um cenário em que o mais importante é tentar voltar à normalidade e garantir a governabilidade a qualquer custo.

Sendo assim, é até possível condenar alguns peixes pequenos, mas dificilmente a punição chegará aos mandantes do golpe e, principalmente, seus financiadores. É impossível por que Lula governa para a manutenção da ordem que sustenta essa burguesia.

Em seu discurso no dia 18 de janeiro de 2023, quando foi realizado um ato político em Brasília após os ataques do dia 8, o representante da CSP-Conlutas, Luiz Carlos Prates, o Mancha, expressava o posicionamento da Central: “A CSP-Conlutas exige punição exemplar aos envolvidos inclusive a expropriação dos bens dos financiadores, a começar pelo clã de Bolsonaro que deve ser investigado e preso. Não tem nenhum sentido qualquer anistia a esses golpistas”, afirmou o dirigente da Central.

Assim, tal manutenção da ordem promovida pelo governo é também a manutenção do risco de novos golpes militares. A impunidade aos criminosos mantém a classe trabalhadora brasileira sempre sob a ameaça de novos períodos ditatoriais.

Reivindicar independência e punição aos golpistas

Garantir a punição aos golpistas, bem como a derrota da extrema direita e seus projetos políticos e econômicos só pode ser obtida de uma forma: a organização e a mobilização em massa dos trabalhadores.

Infelizmente, nos dois primeiros anos do governo Lula, o que temos visto das demais centrais sindicais é o extremo oposto. Há mais esforço para blindar o governo e seus acordos conciliatórios, do que para levar a classe trabalhadora as ruas.

Ainda naquele ato em Brasília, em janeiro de 2023, Mancha defendeu abertamente o programa da CSP-Conlutas, em que afirmou a independência de classe frente a qualquer governo como única forma de barrar o avanço dos golpistas e do projeto de exploração que açoita os trabalhadores brasileiros e fortalece a extrema direita. “É por isso que nós trabalhadores defendemos as liberdades democráticas, para poder lutar”, disse.

Neste caminho, só derrotando o Arcabouço Fiscal, garantindo a efetivação das reformas previdenciárias e trabalhista e derrubando outros ataques que desmontaram os serviços públicos e impedem a demarcação das terras indígenas, nos apontam um horizonte de melhorias à vida para os brasileiros pelo governo Lula.


Nota da CUT e demais centrais

Há quarenta anos, a eleição de Tancredo Neves pelo Colégio Eleitoral, em janeiro de 1985, inaugurava um novo período para o Brasil e seu povo trabalhador: a redemocratização. Embora eleito por via indireta, Tancredo foi o primeiro presidente civil após o golpe de 1964. Sua eleição marcou o fim da ditadura militar brasileira.

Hoje, 8 de janeiro de 2025, resgatar esta memória reforça nossa consciência sobre o valor de vivermos em um país onde a população é livre para se organizar, para se expressar, para reivindicar mais direitos e melhores condições de vida.

Vivemos, desde 1985, o maior período de democracia, com as instituições funcionando e os movimentos sindical e popular podendo atuar com liberdade.

Entretanto, insistentes reflexos de um passado recente, o bolsonarismo saudoso da ditadura militar, nos alertam para o fato de que a democracia é um sistema em permanente construção, que deve ser cultivado e aprimorado sempre.

Os ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023, em Brasília, partiram de grupos que não aceitaram a eleição de um governo pela maioria dos brasileiros através do voto, esse direito tão duramente conquistado. Eles almejavam impor, de forma autoritária e violenta, uma ordem paralela. Como descobrimos recentemente, estavam articulados com uma grande conspiração cujo objetivo era repetir o abominável golpe de 1º de abril de 1964.

As instituições democráticas falaram mais alto e, naquele momento, agiram para debelar a usurpação de poder que assombrava a capital federal.

Todos nós devemos nos envolver nesta causa que é a defesa da democracia, sem relativizá-la em falsas interpretações. É preciso fortalecer os partidos políticos, o movimento social, as organizações de trabalhadores e as instituições que organizam nosso país. Mesmo com todos os desafios que ela apresenta, só em uma democracia podemos lutar e conquistar juntos a valorização do trabalho e o avanço social e humano.

Sem anistia aos golpistas! Não passarão!

Viva os trabalhadores e as trabalhadoras! Viva a democracia!

São Paulo, 8 de janeiro de 2025

Sérgio Nobre, presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores)

Miguel Torres, presidente da Força Sindical

Ricardo Patah, presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores)

Adilson Araújo, presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil)

Moacyr Tesch Auersvald, presidente da NCST (Nova Central Sindical de Trabalhadores)

Antonio Neto, presidente da CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros)

Nilza Pereira, secretária-geral da Intersindical

José Gozze, presidente da Pública

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