1º de Maio: de punhos cerrados e vozes livres!

Foto: Nanda Pessoa

Mais um 1º de Maio passou — e, com ele, as mesmas reivindicações que se repetem ano após ano, não por teimosia, mas por urgência. Porque a dor se perpetua, e a justiça, essa, continua adiada.

Nas Rocas — bairro forjado pela luta dos humildes, lar de ferroviários e berço de rebeldes de 1935 — realizamos nosso ato. Ali, onde o chão carrega a memória das campanhas de alfabetização do Pé no Chão também se Aprende a Ler, acendemos novamente a chama da resistência popular. Com nossos pés fincados na história e os olhos voltados ao futuro, reafirmamos que o 1º de Maio precisa voltar a ser o que nasceu para ser: um grito dos debaixo, um levante dos que produzem tudo, mas pouco têm.

Marchamos com entusiasmo e rebeldia, empunhando com firmeza a bandeira da independência frente a governos e patrões. Nossa luta é clara como o sol que iluminou naquela manhã nossos passos cansados de esperar:

  • Fim da jornada exaustiva 6×1 e redução da jornada de trabalho sem redução salarial!
  • Reajuste automático dos salários conforme a inflação, para que o prato volte a ter comida e o salário volte a ser salário!
  • Revogação do Arcabouço Fiscal, da Reforma Trabalhista e da Reforma da Previdência – ferramentas de extermínio da dignidade popular!
  • Prisão de Bolsonaro e punição aos golpistas! Justiça contra o retrocesso!
  • Fim do genocídio em Gaza! Armas para a resistência palestina! Palestina livre, do rio ao mar!
  • Viva a resistência ucraniana contra a ocupação russa!
  • Contra o racismo, o machismo, a LGBTfobia e todas as formas de opressão!
  • Legalização já do aborto seguro e gratuito – pela vida e autonomia das mulheres!
  • Demarcação e titulação imediata de todas as terras indígenas e quilombolas! Abaixo o Marco Temporal!
  • Contra a repressão policial! Justiça por Bárbara, Gabriel e todas as vítimas da violência de Estado!

Depois de 140 anos do primeiro 1º de Maio, seguimos lutando pela redução da jornada. Lá atrás, eram governos imperiais e capitalistas. Hoje, o clamor se volta a um governo que nasceu no seio da classe trabalhadora e diz defender o povo, mas mantém intactas estruturas que nos esmagam. A promessa era de picanha e cerveja, mas o que chegou foi fome. Ovo e café viraram artigos de luxo. E querem que lutemos por aumento de salário ao lado de parlamentares que votaram no Arcabouço Fiscal, a trava que impede o reajuste? É cinismo demais. Durma-se com esse paradoxo.

Nos dias que antecederam o 1º de Maio, debatemos: deveríamos fazer um ato verdadeiramente independente dos governos e patrões? A resposta foi um sonoro sim. Ainda assim, alguns quiseram deixar uma fresta para os governistas entrarem. Convidou-se a CUT, que afirmou: “concordamos com todas as bandeiras”. Mas como?

Como pode uma central que dá sustentação ao governo Lula, que mantém o Arcabouço Fiscal, que não mexe nas reformas de Temer e Bolsonaro, que distribui ministérios aos partidos da direita golpista, dizer que está conosco?

Como pode marchar por Gaza quem silencia diante do massacre? Como falar em unidade com quem se omite diante da resistência palestina, com quem se esconde na neutralidade diante da invasão russa da Ucrânia? Como defender a demarcação das terras indígenas e quilombolas, enquanto o Marco Temporal avança feito tempestade, e o governo nada faz?

Sim, compreendemos a angústia sincera de tantos companheiros que desejam unidade para enfrentar a extrema-direita. Também queremos derrotar os fascistas! Mas não o faremos distribuindo ministérios aos seus partidos, como fez o PT em coligações com o PL país afora nas eleições passadas. A unidade verdadeira nasce das ruas, não dos conchavos palacianos.

O que queremos é construir outro futuro, ao lado de quem tem fome, de quem não aguenta mais ver filhos chorando por pão, de quem enfrenta o porrete da polícia nos becos escuros. Como esperar que as massas se juntem a atos que não falam sua língua, que não carregam sua dor?

Nossa conclusão é cristalina:

Quem fala em revolução, quem acredita no socialismo, precisa construir atos independentes de governos e patrões.

Nossa aliança é com a juventude negra, com as mulheres exploradas, com os povos originários, com a classe trabalhadora precarizada, com os invisíveis que mantêm esse mundo de pé.

É nas ruas, nas ocupações, nas greves, nas escolas, nas favelas, nas fábricas, que vamos forjar a resistência. O 1º de Maio tem que voltar a ser um levante – não um desfile vazio, não um palanque para oportunistas, mas um grito do fundo da alma de um povo que ainda sonha.

Por Bárbara, assassinada no Passo da Pátria. Por Gabriel, morto nos Guarapes. Por todos que tombam sob as balas do Estado.

Seguimos de punho cerrado. Com independência, convicção e poesia.
Porque, como canta o mundo poético:

“Quando o povo se levanta, não há força que o derrube.”

Viva o 1º de Maio independente!
Viva a luta da classe trabalhadora!

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