por SOCORRO SILVA // Professora do IFRN e pesquisadora do Negedi
Tirar essas pautas da invisibilidade e analisá-las com um olhar interseccional, mostra-se muito importante para que fujamos de análises simplistas ou para se romper com essa tentação de universalidade que exclui. (Ribeiro, p. 42, 2019).
Quando em 2013 criamos o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação, Gênero e Diversidade (NEGEDI) no Campus Natal Central do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), queríamos tirar da invisibilidade e marginalidade pautas que estavam excluídas e invisibilizadas no campo acadêmico e institucional, planejamento, currículo, e na sala de aula. O NEGEDI foi o primeiro núcleo de estudos a se constituir como núcleo de pesquisas na temática de gênero e diversidade no IFRN, como também foi pioneiro ao promover a visibilidade de temas e ações necessárias para o enfrentamento ao machismo, racismo e homofobia dentro da instituição.
Muito embora já houvesse coletivos estudantis, como o MIGA e o JENI CROQUETE, que se organizavam e atuavam em conjunto com a diretoria de Mulheres do Grêmio Estudantil Djalma Maranhão, desde 2011, realizavam ações e debates sobre o preconceito e a discriminação contra as mulheres, negros, negras e homossexuais. O que era de fundamental importância ao pautar o debate na roda do dia e denunciava os casos de machismo, racismo e assédio sexual que aconteciam na instituição.
Em 2013, a nossa presença na instituição se caracteriza de forma positiva e necessária, por envolver toda a comunidade escolar e contar com o apoio e atenção de gestores e pedagogos da área do ensino comprometidos com a pauta. Sendo mais um grupo a cerrar trincheira para ampliar e fortalecer o debate na instituição. Pois, segundo Gomes (2020), em sua Dissertação de Mestrado, suas entrevistadas (estudantes), afirmam que o “O IFRN, como toda instituição, sofre as repercussões de um racismo silencioso, mascarado de igualdade e fundado na meritocracia”. Além do que “persiste um racismo estrutural dentro do ambiente escolar”, conforme relata as entrevistadas.
Outro dado importante que trazemos sobre a necessidade de focar neste assunto é o estudo realizado por Rebecka França e Jean Claude Gomes (2017), intitulado “LGBTfobia, violência, preconceito e discriminação: mapeando a violência contra pessoas LGBT’s no Rio Grande do Norte”, que promove a visibilidade e a difusão do tema no IFRN e na sociedade como um todo. Estudos como estes super atuais e importantes, dentre tantos que se recomenda a leitura e ratifica a necessidade de promovermos debates, estudos e reflexões relacionados às mulheres, à negritude, Lgbtquia+, indígenas e pessoa com deficiência, principal bandeira do NEGEDI desde sua fundação, por entendermos que estes assuntos deveriam incidir política e institucionalmente nas pautas do IFRN, não só figurativamente em seu PPP (2012), ou de forma explicita nas normativas e Legislações sobre o assunto que não são cumpridas, mas de forma concreta através das políticas institucionais e do currículo escolar implementado.
Ribeiro (2019), em seu livro Lugar de Fala, ressalta a importância de não tratar as especificidades e assuntos dos segmentos minoritários como tema universal e igual para todos, sob o risco de invisibizar ou generalizar os problemas. Ou seja, é preciso pensar ações e iniciativas para os estudantes que chegam em nossa instituição de forma específica na sua diversidade e pluralidade, pois são oriundos de segmentos pobres e vulneráveis econômica e socialmente. Negros e negras, gays, lésbicas, transsexuais, indígenas e pessoa com deficiência.
Portanto, não podemos pensar e propor iniciativas uniformes relacionadas à categoria estudantes e suas demandas no que se refere ao acesso, ensino, pesquisa e extensão sem considerar as múltiplas opressões vividas pelos mesmos, resultantes do racismo, machismo, LGBTfobia e capacitismo. É imprescindível considerar as categorias de gênero, raça, etnia, sexualidade e classe como intersecções importantes e fundamentais neste debate, para incidir sobre ações afirmativas e iniciativas que combatam todas as formas de opressão e preconceito no ambiente escolar.
O NEGEDI defende desde sua existência a necessidade de constituirmos um ambiente educacional que planeje e priorize a inclusão e a diversidade sexual, étnico-racial e de gênero como parte de seu processo educacional, que envolva desde os currículos educacionais, a metodologia de ensino, a formação de seus profissionais e os procedimentos adotados no campo da pesquisa e dos projetos de extensão. Refletir como estas categorias estão sendo elucidadas, articuladas e inseridas na formulação e definição de políticas públicas dentro de uma perspectiva interseccional e afrocentrada numa instituição centenária, com amplo reconhecimento e notoriedade na qualidade da formação profissional e tecnológica.
O NEGEDI, ao longo de seus 10 anos, tem promovido importantes debates no interior da instituição, realizando inúmeras atividades como cursos, minicursos, palestras, seminários, projetos de extensão e pesquisa, atividades artísticas, culturais e audiovisuais para impulsionar esta temática no campo formativo, político e acadêmico. Bem como apoiando pautas dos coletivos estudantis e da categoria, em parceria com o Sindicato dos Servidores da Educação da Rede Federal – SINASEFE, Rede de Grêmios do IFRN – REGIF, Grêmios, colaborando em seu fazer político e social e junto a outras instituições parceiras do movimento social e institucional. Além de lideranças políticas e sociais, o que nos oportunizou ter nossa luta e trajetória reconhecida pela sociedade potiguar como o prêmio JATOBÁ em 2022, honraria concedida a pessoas e organizações que desenvolvem trabalhos educacionais e sociais em defesa da educação e da equidade racial.
Seguimos avançando em defesa de uma educação pluriversal, que reconhece e considera saberes, conhecimentos e trajetórias oriundas das diversas culturas e tradições dos povos que formaram nossa nação, como negros, indígenas e outras populações tradicionais. Ampliando o espaço do conhecimento e o aprendizado além da escola formal. Reconhecendo e valorizando a educação das relações étnico-raciais e o conhecimento da história e cultura Afro-Indígena em nossos currículos. Conceber outras epistemologias e cosmovisão da realidade e não apenas uma única historiografia contada e reconhecida como válida no processo educacional.
Por isso, temos muito orgulho de nossa trajetória e seguiremos articulados(as), fortalecendo conjuntamente estas pautas e iniciativas em prol de uma educação pluriversal e afrocentrada.
Quer conhecer mais sobre nosso trabalho e participar conosco do NEGEDI, nos siga nas redes sociais no @negedi_ifrn ou entre em contato no e-mail: negedi.ifrn2017@gmail.com
Viva Os 10 anos de existência do NEGEDI!
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SOCORRO SILVA » Professora do Campus Natal Central do IFRN, pesquisadora do NEGEDI, Educadora popular e ativista do feminismo negro e colabora com o Coletivo Foque em publicações no tema de gênero, raça, feminismo negro e educação.