Mãe Bernadete: Essa grande ancestral foi sacrificada pela impunidade, a crueldade.

por PRECIAWÁ PORÃNGUETÉ // Terreiro Pindorama

São mais de 500 anos da existência da Colonização que acreditamos ser a república, no fundo apenas uma sociedade que se organiza para o desenvolvimento, para a zona de Conforto, túmulos vivos de conforto, cápsulas de conforto, idealização do topo como fulga da realidade. Não somos desse mundo, mas insistimos entrar, pertencer no conforto. Se fosse o papa, um presidente, estaríamos com todos os canais de mídia atentos, os servos fiéis prostrados nas calçadas.

MÃE BERNADETE, trata-se de uma esperança para um mundo melhor, defensora do bem viver, da justiça social pela terra, pelo direito à comida de verdade, pelo direito a ser Quilombola Yalorixá. Algo gravíssimo aconteceu e precisamos acordar porque essas são nossas protetoras que protegem a humanidade, as que vão na frente, sem medo da luta.

Essa grande ancestral foi sacrificada pela impunidade, a crueldade. Representante da história e memória dos seus ancestrais, assim como Dandara, Zumbi dos Palmares, Maria Felipa, Mãe Estela do Oxóssi, Ailton Krenak, Sônia Guajajara, Mariele, outras ancestrais que vivem além da vida e da morte, existindo em vários mundos, inclusive no mundo das ideias onde é expressado o conhecimento da raiz profunda do passado, presente e futuro.

Essa Sociedade não pode mais tolerar nenhuma violência contra as mulheres de matriz africana, como também todas as lideranças, trabalhadores do campo, cacicas, pajés, mulheres indígenas, periféricas. O que está ocorrendo é um golpe de poderes, mas na base social ocorre nesse momento um golpe que está assassinando pessoas em territórios específicos. A tentativa de extermínio aos povos Yanomamis reflete os assassinatos das demais lideranças. Essa violência acontece por todo o Brasil não misturou raças, mas confundiu a cabeça, convenceu que somos iguais, trouxe a lógica que não somos diferentes. E dizem que não temos direito ao nosso ouro vendido na Europa e nos Estados Unidos.

As nossas terras que foram invadidas, compradas por migalhas onde nossos ancestrais foram vítimas de um estelionato social, após diversos massacres sofridos pelos bandeirantes e seus descendentes que invadem terras no estado Brasileiro. No fundo, temos direito à terra e o povo merece terra! Que tenha a força dessa Yalorixá que foi encantada por defender a terra dos ancestrais. Olorum Kosi Purê! Montumbá!

PRECIAWÁ PORÃNGUETÉ, Multi artista, sacerdote da Jurema Sagrada, Sángòbiilayê, Terreiro Pindorama